Subo para meu
quarto desanimado. Como criança que esteve próximo a uma loja de
brinquedos e não pode entrar ou que avistou uma barraquinha de algodão doce,
mas não pode experimentar. Fiquei com água na boca, mas vou ter que dormir
assim, nesta fissura, não tem jeito.
Taylor me espera à porta para passar
as informações.
—Sr. Grey, as providências
necessárias para o voo amanhã estão devidamente tomadas, tudo corretamente providenciado.
—Muito bem Taylor, logo ao raiar do
dia sairemos. Os primeiros raios de sol serão nossos amanhã.
—Sim Sr., estarei a postos para que tudo dê certo.
—E o que mais temos na agenda?
—Temos a reunião com os donos do
terreno, no período da tarde. Assim que confirmarem o horário eu passo para o
Sr., mas creio que será por volta das três.
—Ótimo, assim ficarei tranquilo para
almoçar com Anastasia.
—Mais alguma coisa Sr.?
— Sim, você viu que Anastasia estava
no bar com a mãe, não viu? —Claro que viu
né Grey? Imagine que os olhos espreitadores de Taylor perderiam esta cena.
—Vi sim, Senhor. Na verdade, se me
permite, levei um susto ao vê-la, não sabia que vinha.
—Mais uma surpresa, Taylor, mais uma.
Nem mesmo eu sabia. Quero que você siga as duas para ver se chegam bem à casa
de volta. Depois é só descansar para amanhã.
—Perfeito Sr. Grey, já descerei para
não perdê-las de vista. Boa noite.
—Boa noite, Taylor. Qualquer novidade
me avise.
Assim que entro no meu quarto o telefone toca
e é Ross que precisa falar comigo urgente.
—Grey, desculpe, mas é urgente, senão
não ligaria.
—Manda ver Ross, o que aconteceu?
—Lembra-se daquela investigação
sobre os negócios da Purpure Corporation?
—Claro que lembro, novidades?
—Sim, saíram os resultados. Como
prevíamos demos um tiro no pé. Os pacotes de viagem que foram vendidos terão
que ser ressarcidos antes de fecharmos definitivamente a empresa, realmente
estamos com um elefante branco nas mãos.
—Puta que pariu, eu sabia que isto ia
dar merda.
—A notícia boa é que os pacotes excedidos
foram concluídos, mas vamos ter perdas consideráveis.
Ouço batidas tímidas em minha porta
enquanto falo ao telefone. Ao abrir não contenho minha surpresa e meus olhos
piscam traindo minha insegurança camuflada: é ela. Seguro a porta aberta e aceno
para que ela entre em meu quarto.
— Todos os pacotes excedidos estão concluídos?
E o custo?
—Joga aí umas milhas de dólares,
fazendo todas as deduções possíveis.
Assobio entre dentes, ouvindo Ros e
observando a deusa que desfila em meu quarto.
—É isso, mas pelo menos vamos nos
livrar em tempo, antes da coisa ficar pior.
—Puxa… esse foi um caro engano…
—Se foi, mas vamos recuperar na
próxima. Já estou de olho numa nova consultoria que está abrindo o bico e nós
vamos liquidar em tempo real.
—E Lucas?
—Está pianinho, terminando todos os
dados que pedimos. Vai entregar em tempo recorde os diagramas. Acho que amanhã
ele já entrega para Andrea.
Anastasia observa o quarto. A mobília
aqui é extremamente moderna, muito atual. Toda púrpura e dourada com motivos em
bronze nas paredes.
— Faça Andrea mandar para mim os
diagramas assim que forem entregues.
—Sim, assim que ele entregar ela
dispara para o seu e-mail.
Ando para um armário de madeira
escura e abro a porta para revelar um minibar. Indico para que ela se sirva e
continuo andando pelo quarto doido para encerrar logo esta conversa.
—Barney disse que ele achou o problema…
—Depois da sacudida que você deu
nele, tinha que achar né, Grey? Adoro quando você coloca cada um no seu devido
lugar. Afinal ninguém quer despertar a ira do chefe, ou perder um emprego de
ouro desses. Você volta amanhã?
Dou risada com a fala de Ros e
respondo:
— Não, sexta-feira… existe um lote de terra
aqui que estou interessado.
Enquanto converso caminho até o
banheiro e aproveito para abrir as torneiras e começar a encher a banheira de
água. —Hum, um banho relaxante com ela...
A cabeça de cima continua atenta à conversa e a de baixo começa a se manifestar
em seu divino esplendor. Aproveito para acender as velas aromáticas que estão
dispostas ao redor da banheira enquanto retorno relaxadamente ao quarto.
—Ah, ok. Será excelente uma filial
por aí, acho que é bem estratégico para a empresa. Vou ver com Bill sobre as estatísticas
do local, já devem estar prontos os dados de custo/ benefício.
— Sim, ligue para Bill…
—Quer que ligue hoje?
—Não, amanhã… eu quero ver o que Geórgia
oferecerá se nós mudarmos.
Não consigo tirar os olhos de
Anastasia. Sim, ela está aqui, pronta para mim. Entrego-lhe um copo e aponto
para o balde de gelo.
—Vou ligar logo pela manhã, acredito
que Bill já fez o comparativo entre a Geórgia e Detroit.
— Se seus incentivos forem atraentes
o suficiente, penso que nós devíamos considerar isto, entretanto eu não estou
certo sobre o maldito calor daqui.
—Sim, o calor aí é complicado. Neste
ponto Detroit sai na frente e também o mercado lá está em franca expansão.
— Concordo que Detroit tem suas
vantagens também, e sim é mais fresco.
—Mas já tem gente aqui dos recursos
humanos achando que será difícil conseguir uma equipe afinada com as suas
regras, para migrar para qualquer um destes lugares.
Meu rosto momentaneamente escurece. Detesto
gente frouxa, preguiçosa.
—Por quê? Cada uma! Era só o que me faltava! Faça Bill
ligar. Amanhã… Não muito cedo.
—Ok, chefe. Boa pesquisa por aí e
divirta-se um pouco.
Desligo e olho fixamente para ela enquanto
um enorme silêncio cai entre nós.