1 de fev. de 2014

Capítulo 16- Jogue e realize um sonho



Estou me preparando para deitar quando recebo uma mensagem:
E aí Grey, desistiu dos treinos?
Está com medo de mais uns chutes no traseiro?
Sou ainda seu professor?
Bastille
Respondo imediatamente.
Medo? Quer provar? Tem horário para amanhã?
Seu ainda aluno, Grey
Claude Bastille, meu treinador, responde:
Está brincando, só se for à dez.
Venha de fraldas para amortecer os golpes no traseiro.
Bastille
Calmamente escolho uma reposta para digitar enquanto fico pensando...—Sei, lá sou fujão e cagão... Cada uma! Só este Bastille para ter esta coragem.
Combinado. Amanhã, às dez.
Tenha lenços higiênicos preparados para limpar as SUAS fraldas.
Tente dormir depois desta- Grey
Começo a acreditar que realmente o universo conspira a favor. Estava precisando de um bom treino para colocar em ordem as energias. Bastille caiu como um luva.
Deito-me, já é tarde. Fico observando o tempo passar em minha cama. A cidade está silenciosa, mas suas luzes parecem refletir meu cérebro em chamas, povoado de pensamentos contraditórios. Adormeço na madrugada.
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Eu não gosto deste escuro eu não gosto deste cheiro. Lá fora há silêncio.
De repente uma luz inunda os meus olhinhos e uma mão magra, cheia de ossos aparentes me tira do armário do castigo.
—Vem, Chris. Ele já foi. Vem comer alguma coisa.
Ela me dá um pouco de mingau que está quentinho. Ela está cheirosa. Seu cabelo está molhado, tomou banho.
—Depois de comer tudinho você vai tomar um banho também.
Eu gosto quando ela está assim. Só comigo. Eu só com ela. Tem dias que ela é carinhosa comigo.
Eu como todo o mingau. Não sei do que é, mais é gostoso. Olho para o lugar onde estavam os pedaços do meu heli... As peças não estão mais lá e meus olhos se enchem de lágrimas. Era meu único brinquedo. Ela diz:
—Eu recolhi aquelas peças. Ele foi duro com você novamente, não foi?
Eu balanço a cabeça afirmativamente.
—Não provoque mais, não desobedeça. Você tem que ser um menino bom, obediente para não ir para o castigo. Eu disse que ele é perigoso.
Eu derrubo algumas lágrimas em silêncio. Ela passa os dedos por meus olhos, recolhe uma lágrima e beija os dedos molhados. Em seguida, me diz:
—Sabe o que eu acho?
Eu arregalo os olhos para ela e espero as palavras. Sempre aproveito os momentos que ela está assim sendo minha mamãe de verdade.
— Eu acho que você vai ser um homem muito bonito, inteligente e poderoso. Eu acho que você vai ter outro helicóptero, branco como este que você tanto gostava, só que ele vai ser de verdade. Vai voar no céu azul, te levando para lá e para cá.
Eu me imagino um homem bem grandão. Bem fortão. Se eu fosse grandão e fortão eu não ia deixar ela apanhar deste jeito. Eu ia socar a cara daquele filho da puta e colocar ele de castigo no armário fedido. Ia ver ele sufocando lá dentro e pedindo socorro também e não ia nem ligar.
Olho para o céu azul que está lá fora e me imagino voando no meu heli de verdade. Eu gosto de imaginar isso. Sorrio para mamãe e ela sorri para mim. Mas eu noto que o sorriso dela é triste. Seu cabelo marrom está tão bonito esta manhã, mas não combina com o olho roxo e a pele amarelada. A mamãe está muito magra porque não come o mingau como eu. Ela dá só uma colheradinha e deixa o resto no prato. Por isso está fraquinha e tão pálida. Vai acabar ficando doente.
—Pense sempre assim, querido. Você foi o único sobrevivente do seu helicóptero, não foi? Você ficou vivo depois que ele quebrou, não foi?
Eu balanço a cabeça que sim, com a boca cheia de mingau.
— Você quer pentear o meu cabelo? Você gosta de fazer isso, não gosta?
Eu sorrio, pois adoro pentear os cabelos dela.
— Vai comendo, vou buscar a escova de cabelo.
Eu fico lambendo até a última gota do meu mingau. Eu estava com muita fome. Estou feliz porque o dia começou muito bem e eu vou ser um homem poderoso e voador de helis... Esta palavra é difícil, mas eu vou ter um heli poderoso, a mamãe disse.
Fico esperando pela mamãe e acho que ela está demorando muito para achar a escova de cabelo. Vou atrás dela e quando chego ao quarto a encontro caída no chão. Tremendo, revirando os olhos e babando. Será que o mingau fez mal para ela?
Fico desesperado, não sei o que fazer, começo gritar:
— Mamãe... mamãe.. ma...
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Capítulo 15- Atrasos e imprevistos.



Ela dorme primeiro, me enrosco em seu corpo pequeno, num abraço gostoso e reconfortante. Novamente tenho um sono dos deuses, durmo pesado enrolado a ela. Minha presa está enlaçada, no laço das minhas pernas e dos meus braços, não tem para onde fugir.
De repente sinto um leve toque que sobe por minhas costas, na ânsia por me proteger, volto rapidamente do meu sono delicioso. Respiro fundo e inalo aquele aroma tão maravilhoso que só ela tem. Quando abro os olhos sonolentos encontro com duas safiras que brilham para me avisar: venha, acorde, a vida te espera!
Não era sonho, ela está aqui comigo. Lentamente recupero a memória do dia anterior e lembro que estou em sua cama.
— Bom dia! —murmuro e franzo a testa. — Jesus, até em meu sono eu estou atraído por você. — Me movo devagar, sem vontade de desgrudar dela e percebo que alguém em meu corpo despertou primeiro que eu e já está ereto, pronto para começar o dia. —Bom dia também, Greyzinho...
Percebo que ela se deu conta da minha ereção, pois me lança um olhar e um sorriso mais que sensual. Retribuo com o mesmo sorriso sensual e lento.
— Hmm… isso tem possibilidades, mas acho melhor esperarmos até domingo. — Me inclino e roço sua orelha com meu nariz.
Ela ruboriza e murmura.
— Você é muito quente.
— Você que me acende. — Respondo e me esfrego nela, sugestivamente.
Ela cora um pouco mais. Escoro-me num cotovelo e olho para ela, divertido. Inclino-me, e planto um beijo gentil em seus lábios. Como é bom acordar ao lado dela!
— Dormiu bem? — Pergunto.
Ela concorda com a cabeça, olhando fixamente para mim, esperando minha resposta.
— Eu também. — E franzo a testa. — Sim, muito bem. — Levanto minhas sobrancelhas surpreso e confuso, pois até poucos dias atrás passar a noite inteira com alguém era um limite rígido para mim. Já rompi este limite com ela por três vezes e, sinceramente, acho que vou romper outras vezes mais.
De repente me ou conta que o dia já está muito claro e que minha agenda é bem apertada, começando logo pela manhã.
— Que horas são?
Ela olha para o relógio de cabeceira.
— São 7:30.
— 7:30? Merda. — Pulo da cama rapidamente e pego minha calça jeans.
Ela fica me observando com o olhar divertido, enquanto se senta. Percebo que se diverte com meu atraso e agitação.
— Você é uma péssima influência para mim. Eu tenho uma reunião. Tenho que correr para estar em Portland às oito. Você está rindo de mim?
— Sim.
Também sorrio com a situação inusitada.
— Estou atrasado. Não costumo me atrasar. Outra primeira vez, Srta Steele. — Puxo meu casaco e em seguida me abaixo e agarro sua cabeça, com uma mão de cada lado.
— Domingo! — Digo carregando minhas palavras com uma promessa não dita.
Inclino-me e beijo-a rapidamente numa despedida rápida. Pego as minhas coisas na mesa de cabeceira e os sapatos, que não coloco por falta de tempo.
— Taylor virá avaliar o seu Fusca. Eu estava falando sério. Não o dirija. Vejo você em minha casa no domingo. Vou enviar um e-mail mais tarde. — E saio apressado como um vendaval.
Galopo, literalmente, escadaria abaixo, atropelo e quase derrubo um senhor de óculos que sobe carregando um saco de compras.
— Oh, desculpe Sr. , bom dia!
Ele me olha ressabiado, assustado. Ajeito o pacote de compras em seus braços e digo.
—Melhor assim, tenha um bom dia.
Não espero a resposta. Continuo minha cavalgada doida até chegar ao carro onde Taylor já me aguarda com as portas abertas.
— Estou atrasado, Taylor. Por que você não me ligou?
— Bem Senhor... eu tentei, mas o Senhor não atendeu.
— Que merda! Eu odeio me atrasar. Executivos competentes não se atrasam!
—De qualquer forma, Senhor, comprei esta xícara de café e estas torradas com geleia para seu desjejum.
Pego o café improvisado e começo a devorar como um leão faminto. Emburrado e faminto... Taylor dá partida no carro e arranca velozmente. Quase derrubo café na minha roupa. Era só o que faltava! Ele então me encara pelo retrovisor e diz.
—Sr. Grey, tem também um troca de roupa aí no banco. Até chegarmos ao hotel o Senhor poderá se trocar. Além disso, seu nécessaire com produtos de higiene estão aí, dentro da pasta do notebook, há um banheiro logo na entrada do salão de reuniões...
Dou uma checada no banco e encontro um terno e uma camisa impecáveis. Bem diferentes da roupa que estou usando: informal e amarrotada. Assim que devoro meu café da manhã, me troco no banco traseiro. Pareço um fugitivo que acaba de fazer um grande roubo e precisa mudar de roupa para fugir da polícia.
Pensando bem, deveria acionar a polícia pra mandar prender uma certa Srta de olhos de safira que anda roubando meu sossego e minha sanidade. —Ah, Anastasia Steele, mais duas primeira vezes: chegar atrasado a uma importante reunião e improvisar uma troca de roupa.
Mesmo com todo este estresse, estranhamente não estou mal humorado. Lembro-me do sorriso dela se divertindo com minha trapalhada com as roupas logo pela manhã e me divirto também. A noite maravilhosa que tivemos ainda exerce fascínio sobre mim.
Taylor mantém sua discrição ao dirigir como se nenhum homem atrapalhado semipelado estivesse no banco traseiro. Faz de conta que não vê minha atrapalhação. Eu interrompo o silêncio.
— E Ros já está no hotel, Taylor?
—Sim Sr Grey, ela também tentou falar com o Sr, mas disse que deixaria tudo sob controle.
Somente agora me dou conta de olhar o BlackBerry. Tem nove ligações perdidas: duas de Ros, duas de Taylor e... cinco de Elliot. — Caralho, isto deve ser coisa da fofoqueira da Chaterine. — Depois eu ligo para ele para saber o que ela narrou sobre minha invasão domiciliar. Com certeza deve ter acrescentado requintes de crueldade na minha conduta, como se ela fosse um poço de gentilezas comigo.
Me dou conta que chegamos porque o carro para abruptamente e Taylor salta para me abrir a porta. Olho para o relógio 7:55, uau!
— Uau Taylor, nem percebi que você acionou o modo Batmóvel. Chegamos em tempo recorde!
Vamos caminhando para a entrada do hotel conversando.
—O trânsito estava livre esta manhã, Sr. Grey.
—O que é um milagre para este horário, Taylor.
—É que, às vezes Sr., o universo conspira a nosso favor...
Dou uma olhada para ele achando estranho o comentário, mas somos interrompidos por uma Ros apressada que nos alcança e me cumprimenta com um beijo no rosto.
—Bom dia Grey! Estava acionando o FBI para te localizar. Nossa que cabelo é este? Parece até que foi atropelado, o que aconteceu? Os executivos já chegaram!
—Depois explico Ros. Vai dando um jeito, preciso de um banheiro, volto rapidinho!