1 de fev. de 2014

Capítulo 15- Atrasos e imprevistos.



Ela dorme primeiro, me enrosco em seu corpo pequeno, num abraço gostoso e reconfortante. Novamente tenho um sono dos deuses, durmo pesado enrolado a ela. Minha presa está enlaçada, no laço das minhas pernas e dos meus braços, não tem para onde fugir.
De repente sinto um leve toque que sobe por minhas costas, na ânsia por me proteger, volto rapidamente do meu sono delicioso. Respiro fundo e inalo aquele aroma tão maravilhoso que só ela tem. Quando abro os olhos sonolentos encontro com duas safiras que brilham para me avisar: venha, acorde, a vida te espera!
Não era sonho, ela está aqui comigo. Lentamente recupero a memória do dia anterior e lembro que estou em sua cama.
— Bom dia! —murmuro e franzo a testa. — Jesus, até em meu sono eu estou atraído por você. — Me movo devagar, sem vontade de desgrudar dela e percebo que alguém em meu corpo despertou primeiro que eu e já está ereto, pronto para começar o dia. —Bom dia também, Greyzinho...
Percebo que ela se deu conta da minha ereção, pois me lança um olhar e um sorriso mais que sensual. Retribuo com o mesmo sorriso sensual e lento.
— Hmm… isso tem possibilidades, mas acho melhor esperarmos até domingo. — Me inclino e roço sua orelha com meu nariz.
Ela ruboriza e murmura.
— Você é muito quente.
— Você que me acende. — Respondo e me esfrego nela, sugestivamente.
Ela cora um pouco mais. Escoro-me num cotovelo e olho para ela, divertido. Inclino-me, e planto um beijo gentil em seus lábios. Como é bom acordar ao lado dela!
— Dormiu bem? — Pergunto.
Ela concorda com a cabeça, olhando fixamente para mim, esperando minha resposta.
— Eu também. — E franzo a testa. — Sim, muito bem. — Levanto minhas sobrancelhas surpreso e confuso, pois até poucos dias atrás passar a noite inteira com alguém era um limite rígido para mim. Já rompi este limite com ela por três vezes e, sinceramente, acho que vou romper outras vezes mais.
De repente me ou conta que o dia já está muito claro e que minha agenda é bem apertada, começando logo pela manhã.
— Que horas são?
Ela olha para o relógio de cabeceira.
— São 7:30.
— 7:30? Merda. — Pulo da cama rapidamente e pego minha calça jeans.
Ela fica me observando com o olhar divertido, enquanto se senta. Percebo que se diverte com meu atraso e agitação.
— Você é uma péssima influência para mim. Eu tenho uma reunião. Tenho que correr para estar em Portland às oito. Você está rindo de mim?
— Sim.
Também sorrio com a situação inusitada.
— Estou atrasado. Não costumo me atrasar. Outra primeira vez, Srta Steele. — Puxo meu casaco e em seguida me abaixo e agarro sua cabeça, com uma mão de cada lado.
— Domingo! — Digo carregando minhas palavras com uma promessa não dita.
Inclino-me e beijo-a rapidamente numa despedida rápida. Pego as minhas coisas na mesa de cabeceira e os sapatos, que não coloco por falta de tempo.
— Taylor virá avaliar o seu Fusca. Eu estava falando sério. Não o dirija. Vejo você em minha casa no domingo. Vou enviar um e-mail mais tarde. — E saio apressado como um vendaval.
Galopo, literalmente, escadaria abaixo, atropelo e quase derrubo um senhor de óculos que sobe carregando um saco de compras.
— Oh, desculpe Sr. , bom dia!
Ele me olha ressabiado, assustado. Ajeito o pacote de compras em seus braços e digo.
—Melhor assim, tenha um bom dia.
Não espero a resposta. Continuo minha cavalgada doida até chegar ao carro onde Taylor já me aguarda com as portas abertas.
— Estou atrasado, Taylor. Por que você não me ligou?
— Bem Senhor... eu tentei, mas o Senhor não atendeu.
— Que merda! Eu odeio me atrasar. Executivos competentes não se atrasam!
—De qualquer forma, Senhor, comprei esta xícara de café e estas torradas com geleia para seu desjejum.
Pego o café improvisado e começo a devorar como um leão faminto. Emburrado e faminto... Taylor dá partida no carro e arranca velozmente. Quase derrubo café na minha roupa. Era só o que faltava! Ele então me encara pelo retrovisor e diz.
—Sr. Grey, tem também um troca de roupa aí no banco. Até chegarmos ao hotel o Senhor poderá se trocar. Além disso, seu nécessaire com produtos de higiene estão aí, dentro da pasta do notebook, há um banheiro logo na entrada do salão de reuniões...
Dou uma checada no banco e encontro um terno e uma camisa impecáveis. Bem diferentes da roupa que estou usando: informal e amarrotada. Assim que devoro meu café da manhã, me troco no banco traseiro. Pareço um fugitivo que acaba de fazer um grande roubo e precisa mudar de roupa para fugir da polícia.
Pensando bem, deveria acionar a polícia pra mandar prender uma certa Srta de olhos de safira que anda roubando meu sossego e minha sanidade. —Ah, Anastasia Steele, mais duas primeira vezes: chegar atrasado a uma importante reunião e improvisar uma troca de roupa.
Mesmo com todo este estresse, estranhamente não estou mal humorado. Lembro-me do sorriso dela se divertindo com minha trapalhada com as roupas logo pela manhã e me divirto também. A noite maravilhosa que tivemos ainda exerce fascínio sobre mim.
Taylor mantém sua discrição ao dirigir como se nenhum homem atrapalhado semipelado estivesse no banco traseiro. Faz de conta que não vê minha atrapalhação. Eu interrompo o silêncio.
— E Ros já está no hotel, Taylor?
—Sim Sr Grey, ela também tentou falar com o Sr, mas disse que deixaria tudo sob controle.
Somente agora me dou conta de olhar o BlackBerry. Tem nove ligações perdidas: duas de Ros, duas de Taylor e... cinco de Elliot. — Caralho, isto deve ser coisa da fofoqueira da Chaterine. — Depois eu ligo para ele para saber o que ela narrou sobre minha invasão domiciliar. Com certeza deve ter acrescentado requintes de crueldade na minha conduta, como se ela fosse um poço de gentilezas comigo.
Me dou conta que chegamos porque o carro para abruptamente e Taylor salta para me abrir a porta. Olho para o relógio 7:55, uau!
— Uau Taylor, nem percebi que você acionou o modo Batmóvel. Chegamos em tempo recorde!
Vamos caminhando para a entrada do hotel conversando.
—O trânsito estava livre esta manhã, Sr. Grey.
—O que é um milagre para este horário, Taylor.
—É que, às vezes Sr., o universo conspira a nosso favor...
Dou uma olhada para ele achando estranho o comentário, mas somos interrompidos por uma Ros apressada que nos alcança e me cumprimenta com um beijo no rosto.
—Bom dia Grey! Estava acionando o FBI para te localizar. Nossa que cabelo é este? Parece até que foi atropelado, o que aconteceu? Os executivos já chegaram!
—Depois explico Ros. Vai dando um jeito, preciso de um banheiro, volto rapidinho!

Ela me olha intrigada, mas avanço com passadas largas para o banheiro do saguão do Heathman. Preciso dar uma mijada urgente. Preciso de um banho também, mas da mijada primeiro. Assim que me alivio corro para a pia. Escovo os dentes com os produtos da “santa nécessaire tayloriana”, passo um pouco de desodorante, molho os cabelos, passo um pouco de gel e penteio. Ajeito a gravata e confiro o visual no espelho.—Dá para enganar, Grey! Obrigado Deus por ter me enviado São Taylor!
Saio do banheiro às 8:05, ofegante, pois não sou acostumado com este tipo de situação. Encontro Ros me esperando e rindo muito para mim.
—Qual a graça, Ros? Por que está sorrindo tanto para mim?
—Estou rindo de você, Grey! Nunca te vi numa situação como esta. Fazendo a higiene matinal no banheiro do saguão do hotel?!? Isto é inusitado e hilário.
Reviro os olhos para ela e não respondo nada. Vamos nos encaminhando para o salão de reuniões e ela não para de rir.
— É impressão minha ou você simulou um banho?
—Vá me dizer que você nunca precisou de um banho fake, Ros?
—Nunca, mas aprendi mais uma com você meu amigo. Fique tranquilo, daqui você está só um pouco fedidinho.
Chegamos à porta da sala e ela assume outra feição. Nos momentos pré-reunião somos parceiros e adotamos o aspecto mais profissional do mundo. Ela assume sua postura executiva e me pergunta:
—Em que modo vamos operar hoje?
—Em modo faminto total.
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Estamos no início da reunião com os cinco membros da companhia que desejo fechar o acordo sobre mercados futuros e aplicações nas bolsas de valores dos mercados mais prósperos do mundo. Após as apresentações formais e um pedido de desculpas pelo atraso de dez minutos, passamos às exposições.
Ros está com o olhar muito sério fazendo anotações em seu MacBook. Eu também estou acompanhando as explanações e, assim que abro meu notebook para acompanhar a reunião checando com os documentos que Andrea enviou, sou surpreendido pelo alerta de chegada de e-mail de Anastasia Steele.
Reluto um pouco, não quero olhar para não desviar a atenção da reunião. Mas também quero olhar para ver o que está escrito. —Que merda! De novo esta dualidade! De novo a indecisão!
Antes de terminar este pensamento, meus dedos desobedientes abrem o e-mail, para meu deleite ela escreve:
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De: Anastasia Steele
Assunto: Ataque e Espancamento: Os efeitos posteriores
Data: 27 de maio 2011 08:05
Para: Christian Grey
Querido Sr. Grey
Você queria saber por que eu me senti confusa depois que você me aplicou os eufemismos: espancada, castigada, batida, atacada. Bem, durante todo o processo alarmante eu me senti humilhada, aviltada e abusada. E para minha grande mortificação, você está certo, eu estava excitada, o que foi inesperado. Como você bem sabe, todas as coisas sexuais são novas para mim, eu gostaria de ser mais experiente e, portanto, mais preparada. Fiquei chocada ao me sentir excitada.
O que realmente me preocupou foi como me senti depois. E isso é mais difícil de articular.
Fiquei feliz por que você estava feliz. Senti-me aliviada por não ser tão doloroso quanto eu pensei que seria. E quando eu estava deitada em seus braços, me senti saciada. Mas me sinto muito desconfortável, até culpada, me sentindo dessa forma. Não combina bem comigo, eu estou confusa com o resultado. Isso responde a sua pergunta?
Espero que o mundo de Fusões e Aquisições seja tão estimulante como sempre… e que você não tenha se atrasado muito.
Obrigado por ficar comigo.
Ana
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Fico tão maravilhado com estas palavras que, fingindo anotar o que está sendo dito na reunião, digito a seguinte resposta:
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De: Christian Grey
Assunto: Livre Sua Mente
Data: 27 de maio 2011 08:24
Para: Anastasia Steele
Interessante… ligeiramente exagerada no título, Senhorita Steele.
Para responder aos seus pontos:
• Eu vou continuar com as palmadas, assim como está.
• Então se sentiu humilhada, vil, abusada e agredida, você é muito Tess D'urberville. Creio que foi você quem decidiu pela degradação se bem me lembro. Você realmente sente assim ou pensa que deveria se sentir assim?
São duas coisas muito diferentes. Se for assim que você se sente, acha que poderia tentar e abraçar estes sentimentos, lidar com eles por mim? Isso é o que uma submissa faria.
• Eu sou grato por sua inexperiência. Eu valorizo isso, e eu estou só começando a entender o que significa. Simplificando… isso significa que você é minha em todos os sentidos.
• Sim, você ficou excitada, que por sua vez é muito excitante, não há nada de errado com isto.
• Feliz nem sequer começa a definir o que senti. Alegria estática chega perto.
• Surra de punição dói muito mais que surra sensual. De modo que, é quase tão difícil para quem dá quanto para quem recebe. A menos que, naturalmente, você cometa alguma transgressão grave, caso em que usarei alguns implementos para castigar você. Minha mão estava muito dolorida. Mas eu gosto disso.
• Eu me senti muito saciado, muito mais do que você poderia saber.
• Não desperdice sua energia em culpa, sentimentos de injustiça, etc. Nós somos adultos responsáveis e o que nós fazemos atrás de portas fechadas está entre nós mesmos. Você precisa liberar a sua mente e escutar o seu corpo.
• O mundo de BDSM não é quase tão estimulante quanto você é Srta Steele.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Volto minha atenção para a reunião, mas sou novamente impelido para a resposta dela.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Consentindo Adultos!
Data: 27 de maio 2011 08:26
Para: Christian Grey
Você não está em uma reunião?
Eu estou muito contente por sua mão estar dolorida.
E se eu escutasse o meu corpo, eu estaria no Alasca agora.
Ana
PS: Eu pensarei sobre abraçar estes sentimentos.
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Uau, precisando fugir para o Alasca, Srta Steele? Promissor, muito promissor!
Digito rapidamente uma resposta.
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De: Christian Grey
Assunto: Você não chamou a polícia
Data: 27 de maio 2011 08:35
Para: Anastasia Steele
Srta Steele;
Eu estou em uma reunião discutindo mercados futuros, se você estiver realmente interessada.
Para o registro: você permaneceu ao meu lado sabendo o que eu iria fazer.
Você não fez, em qualquer momento me pediu para parar, você não usou qualquer uma das palavras seguras.
Você é uma adulta e você tem escolhas.
Francamente, eu estou ansioso pela próxima vez que minha mão esteja a tocando com dor.
Você obviamente não está escutando a parte certa de seu corpo.
O Alasca é muito frio e sem nenhum lugar para correr. Eu acharia você.
Eu posso controlar o seu telefone celular, lembra?
Vá trabalhar.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Neste momento, Ros interpela um advogado dos investidores que querem estabelecer a parceria. Minha sorte é que ela está totalmente atenta aos negócios enquanto eu vou negociando com minha Srta. Gostosinha que me manda outra resposta. Ela está gostando da brincadeira. Eu também!
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De: Anastasia Steele
Assunto: Espreitador
Data: 27 de maio 2011 08:36
Para: Christian Grey
Você buscou terapia para suas propensões de assediador?
Ana
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Aha, ela não sabe nada do quanto será assediada.
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De: Christian Grey
Assunto: Espreitador? Eu?
Data: 27 de maio 2011 08:38
Para: Anastasia Steele
Eu pago ao eminente Dr. Flynn uma pequena fortuna para que ele se ocupe de minhas tendências de assédio e de outras propensões.
Vá trabalhar.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Charlatões caros
Data: 27 de maio 2011 08:40
Para: Christian Grey
Eu posso humildemente sugerir que você busque uma segunda opinião?
Eu não estou certa que esse Dr. Flynn é muito eficiente.
Srta Steele
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De: Christian Grey
Assunto: Segundas Opiniões
Data: 27 de maio 2011 08:43
Para: Anastasia Steele
Não é da sua conta, humilde ou não, mas Dr. Flynn é a segunda opinião.
Você terá que acelerar em seu novo carro, pondo você mesma em risco desnecessário, penso que isto é contra as regras.
VÁ TRABALHAR.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Me ajeito na cadeira, como se estivesse prestando atenção total ao que está sendo discutido. Pareço adolescente na sala de aula tentando enganar o professor da matéria mais chata. Feliz por estar enganando e com medo de ser surpreendido na travessura. É uma adrenalina total.
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De: Anastasia Steele
Assunto: ALTOS CAPITAIS
Data: 27 de maio 2011 08:47
Para: Christian Grey
Como o objeto de suas propensões é espreitar, eu penso que é da minha conta realmente.
Eu não assinei ainda. Então não há limites de regras. E eu não começo até as 9:30.
Srta Steele
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De: Christian Grey
Assunto: Linguística descritiva
Data: 27 de maio 2011 08:49
Para: Anastasia Steele
Sem limites? Não sei onde isso aparece no Dicionário.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Parece que vejo sua boca gostosa e inteligente dizendo estas palavras.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Linguística descritiva
Data: 27 de maio 2011 08:52
Para: Christian Grey
Está entre excesso de controle e perseguidor.
E linguística descritiva é um limite duro para mim.
Você vai parar de me aborrecer agora?
Eu gostaria de ir trabalhar em meu novo carro.
Ana
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Esta foi boa. Vejo que está em ótimo humor. Talvez a noite tenha lhe feito o mesmo bem que fez a mim. Está até assumindo que é dona do carro.
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De: Christian Grey
Assunto: Jovem desafiadora, mas divertida
Data: 27 de maio 2011 08:56
Para: Anastasia Steele
A palma da minha mão está coçando.
Dirija com segurança, Srta Steele.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Ela não responde mais e volto minha atenção para a reunião. Percebo que Ros estava me observando digitar e me encara como se fizesse um questionamento, sem entender ao certo meu comportamento inusitado.
O tempo passa depressa e vamos fechando acordos muito rentáveis. Meu BlackBerry recebe uma mensagem. É de Taylor e diz apenas:
“Conteúdo entregue há cinco minutos”
Fico imaginando ela abrindo o pacote e dando de cara com mais um brinquedinho eletrônico, de última geração. Com certeza arregalou os olhos, corou o rosto, mordeu os lábios... Hum... e fez meu pau levantar agora somente com esta visão.
Mas com certeza também pensou em me devolver e dizer que estou gastando muito, etc e tal. Me antecipo a isto tudo e escrevo.
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De: Christian Grey
Assunto: BlackBerry SOB EMPRÉSTIMO
Data: 27 de maio 2011 11:15
Para: Anastasia Steele
Eu preciso ser capaz de contatar você em todos os momentos, e uma vez que esta é sua forma mais honesta de comunicação, eu percebi que você precisava de um BlackBerry.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Ela não responde à minha provocação. Entrego-me ao término da reunião e ao meio dia, após assinar os documentos dos acordos, nos despedimos dos novos parceiros empreendedores. Estamos recolhendo a papelada e sou interpelado por Ros que diz bruscamente.
—Sinto cheiro de novidade no ar, Grey!
—Ah, sim, foram muitas novidades nesta reunião.
—Ah, sim, foram mesmo. Inclusive a novidade de que, pela primeira vez, você não prestou atenção em nada. Deixou-me negociar tudo sozinha, não deu parecer nenhum e apenas concordou com os resultados.
—Do que você está falando exatamente, Ros?
—De que você estava conversando com alguém aí no notebook. Sei que não curte redes sociais, mas que você estava muito longe desta reunião, ah estava sim!
Não resisto ao olhar verdadeiro da minha amiga e respondo:
—Deu para perceber, é?
—Deu para perceber, sim!
—Será que os outros também perceberam?
—Sinceramente?
Fico tenso com a possibilidade da resposta dela. Nunca negligenciei na empresa. Não quero perder o controle de nada, nem passar uma impressão duvidosa aos investidores. Ela me olha e cai numa gargalhada.
— Relaxa, Grey! Eu percebi porque te conheço muito bem. Os demais provavelmente acreditaram que você estava totalmente interessado, anotando item por item de tanto que digitava. Eles sabem que você é um predador... bem, estou falando do mundo dos negócios.
— Ainda bem! — Sorrio de volta para ela e afrouxo a gravata.
—Estou entendo tudo, meu amigo. Sei bem de que cheiro estamos falando, porque eu também adoro. Sei bem como é de enlouquecer. É sério!
Olho para Ros que acaba de piscar para mim e, pela primeira vez, admito para alguém.
—Está ficando sério, sim. Pelo menos estou tentando.
—Eu acho ótimo, Grey. Pelo menos sua pele está perfeita, seus olhos estão brilhantes e ter alguém é muito bom. Você merece ser feliz. É alguém que conheço?
—Não. Ela mora aqui, mas acabou de se formar e está de mudança para Seattle. Seu nome é Anastasia Steele.
—Uau! Se ela vai para Seattle a coisa vai ficar séria mesmo. Vou querer conhecê-la para dar uma bronca.
—Como assim, dar uma bronca?
—Claro! Não quero fazer parte de uma corporação em que o CEO dá maus exemplos.
—Como assim, maus exemplos?
—Ora, ora Sr. Grey, um CEO que toma banho fake pode destruir a corporação com odores indesejados, não acha? Vou proibir a Srta Anastasia de fazê-lo perder a hora e não ter tempo de tomar um banho decente.
Reviro os olhos para ela e respondo enquanto vamos recolhendo o material.
—Ros, antes que me esqueça: vá à merda! Mais só depois que almoçarmos, estou faminto!
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Almoçamos rapidamente enquanto vamos falando sobre o excelente negócio que acabamos de fechar. Em seguida, subo para o quarto para pegar meus pertences e rumar para Seattle. Ros vai comigo no Charlie Tango enquanto Taylor ficará para dar fim àquela sucata chamada Wanda. Já estou me preparando para sair da suíte quando recebo outro e-mail dela.
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De: Anastasia Steele
Assunto: O consumismo Enlouquecido
Data: 27 de maio 2011 13:22
Para: Christian Grey
Eu penso que você precisa chamar o Dr. Flynn agora mesmo.
Suas tendências de perseguidor estão numa correria louca.
Eu estou no trabalho. Vou enviar um e-mail para você quando eu chegar em casa.
Obrigado por mais este dispositivo.
Eu não estava errada quando disse que você era um total consumista.
Por que você faz isto?
Ana
— Porra, porque ela encasquetou com o Flynn? Mando outra mensagem, mas ela não responde.
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De: Christian Grey
Assunto: Sagacidade de uma jovem
Data: 27 de maio 2011 13:24
Para: Anastasia Steele
Direto no ponto, como sempre, Srta Steele.
Dr. Flynn está de férias.
E eu faço isto porque posso.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Nem acredito que estou indo embora. Foram dias tão especiais que será difícil controlar a ansiedade até vê-la. —É Grey, vai chegar o Natal primeiro, antes do domingo...
Desço para o saguão e encontro Taylor acabando de acertar as contas. Ele me acompanha enquanto me encaminho para embarcar.
— E então Taylor, tudo acertado para acabar com aquela máquina mortífera?
—Sim Sr Grey. Hoje à tarde levarei para a venda.
—Já sabe, doe aquilo para a sucata, se é que alguém vai querer, e leve um bom dinheiro para ela como se tivesse vendido.
—Pode deixar Sr Grey. Mas acredito que conseguirei negociar com alguns colecionadores. Como já disse, ali existem peças originais.
—Muito bem. Faça o melhor. Você conferiu o deslocamento dela hoje?
—Sim Sr. O rastreador funciona perfeitamente. Ela realmente foi para a Clayton’s e permanece lá até agora.
—Bem, e em relação a tal famosona Dra. Greene?
—Está confirmada em seu apartamento às 13:30.
—Eu sabia que ela faria esta “gentileza” de abrir sua agenda que deve ter sido a peso de ouro.
—O Sr realmente quer saber quanto foi, Sr Grey?
—Não, Taylor. Só quero saber o que realmente importa: ela é mulher. Ela é a melhor. Simples assim. ­— Até parece que deixaria algum médico tocar o território intocado de Anastasia. Quer dizer, desbravado somente por mim. Conquista minha!
—Como o senhor exigiu, Sr Grey. Com a quantia ofertada ela não teve como recusar.
—Ótimo. Te espero em Seattle logo à noite. Até mais.
—Até mais Sr Grey.
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Antes de embarcar, aviso Anastasia sobre a consulta.
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De: Christian Grey
Assunto: Domingo
Data: 27 de maio 2011 13:40
Para: Anastásia Steele
Devo vê-la à 13h da tarde de domingo?
O médico estará em Escala para vê-la às 13:30.
Eu estou partindo para Seattle agora.
Espero que sua mudança seja ok, eu estou ansioso pelo nosso encontro no domingo.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Fazemos um voo tranquilo e dentro do previsto. Vou conversando com Ros sobre trabalho e não falamos mais sobre vida pessoal.
Chego ao escritório e resolvo uma série de situações que esperavam minhas decisões. Também tomo conhecimento de todos os fatos ocorridos na minha ausência, afinal faz uma semana que estou fora. Andrea me lembra do jantar de caridade desta noite. Realmente havia me esquecido, mas não posso faltar a este evento. Além disso, ela me enche de documentos para assinar e, na saída de volta para casa, ainda levo uma série deles para ler.
Pouco antes de sair do escritório, meu BlackBerry toca.
—Grey.
—Uau, finalmente o mocinho nervoso atendeu ao meu chamado.
—Eu sabia, Elliot. O que sua namorada disse a meu respeito?
—Nada além de que você anda fazendo Anastasia chorar e ainda invadiu o apartamento delas tarde da noite e..
Interrompo Elliot.
—Ela não sabe do que se trata. Aliás, ela é muito intrometida. Não tinha nada que falar sobre minha vida para você.
—Ah, tinha sim. Se um dos “Irmãos Grey Ativar” anda em modo invasão domiciliar é bom que o outro saiba, antes da polícia. Só quero ajudar...
Reviro os olhos loucos de raiva da Chaterine. Vai ser difícil manter um relacionamento amigável com ela.
—Hei Christian! Sou eu, Lelliot, lembra? Só quero saber o que está acontecendo, no que eu posso ajudar?
—Está acontecendo que eu estou tentando um relacionamento. Aí no pacote vem uma amiga intransigente, metida que, inclusive, pode se tornar minha cunhada. Está bom para você?
—Uma cunhada gostosa prá caralho inclusive. Hoje à noite vou pegar.
—Elliot, que parte você ainda não entendeu que eu não quero saber dos seus arroubos sexuais?
—É apenas o calor da emoção e do tesão que me deixam assim. Mas você vai contar o que aconteceu ontem ou não?
—Não aconteceu nada, apenas um mal entendido que já foi resolvido.
—A Kate me contou que você estava transtornado tentando acalmar uma Anastasia chorosa. Ah, fala a verdade, você deu uma surra de vara nela, não deu?
Enrubesço automaticamente com este comentário. Eu sei que Elliot não está pensando no mesmo tipo de surra que eu. Mas fico constrangido mesmo assim. Ainda bem que a conversa não é pessoalmente, senão seria ainda mais desconfortável e eu entregaria parte de meus segredos.
—Elliot, vou fingir que não entendi esta piadinha infame. Mas se a Srta Kavanagh fosse uma Gossip Girl de verdade, deveria ter contado que tudo se resolveu.
—Contou que você inclusive passou a noite por lá...
—Então é isso, até logo Elliot. Você não está atrasado para ajudar nos preparativos da mudança?
—Estou a caminho. Já que você não vai entrar em detalhes...
—Ainda bem que você percebeu. Não vou mesmo entrar em detalhes da minha vida amorosa.
—Ok, então. Uau, vida amorosa! Já percebi que a situação está sob controle. Precisando é só chamar!
—Boa viagem Elliot...
—Ah, espere. Está tudo certo para pegar a Mia amanhã?
—Claro. Vou buscá-la no aeroporto.
—Muito bem. Vou ver duas gatas agora algum recado?
—Cuide bem da sua e tire os olhos da minha. O recado é este, entendeu?
—Claro, claro. Recado dado, recado compreendido. Irmão Elliot Grey que vai se deliciar em poucos momentos, desativando em três, dois...
— Aproveita e vá à merda também Lelliot.
Desligo ouvindo ao fundo sua deliciosa gargalhada. Vou para casa.
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Tomo banho e me arrumo para o jantar beneficente. Desço para a cozinha guiado pelo aroma maravilhoso do jantar preparado por Gail.
—Boa noite, Gail!
—Boa noite, Sr Grey. Que bom que está de volta.
—Obrigada Gail. Se não estiver enganado, este cheiro é de ...
—Macarrão com muito queijo. —Falamos juntos e damos uma risada gostosa.
— Do jeito que o Sr gosta. Mais queijo que macarrão, derretendo aos montes.
—Sim para combinar com o vinho e a salada no capricho.
—Tenho um jantar beneficente no clube de campo em trinta minutos. Mas acho que vou encarar este macarrão antes de sair. Estes jantares são tão demorados e... não se parecem em nada com seu macarrão marvilhoso.
Vou pegando o vinho que quero e me sento à mesa que está preparada para mim. Gail me serve e pergunta.
— Coma à vontade, Sr Grey! O macarrão é mais gostoso assim fresquinho. Quer mais alguma coisa?
—Não Gail, por enquanto só preciso devorar tudo isto aqui.
—Bom apetite. Se precisar é só chamar.
Ela me deixa sozinho saboreando o prato maravilhoso. Como igual a um dragão faminto e penso no que será que Anastasia estará comendo. Será que ela se alimentou?
Termino rapidamente e vou saindo. Mas antes de alcançar o carro, ligo para ela. Estou louco para ouvir sua voz. O telefone toca, toca e nada. Ela não atende. Já deve estar em casa, são quase 20h. Ligo novamente e nada. Dou uma checada no rastreador e vejo que o carro voltou para o apartamento e está por lá. Melhor assim. Ligo para Taylor.
—Pois não, Sr Grey.
—Deu tudo certo com a sucata Taylor?
—Tudo sob controle Sr Grey, dentro do previsto.
—Você, bem... você a viu?
—Sim Sr. Ela me recebeu após o trabalho, desocupou o carro e me entregou. Já negociei e estou me preparando para retornar.
—Bem, estava tudo certo com... bem.. com o carro, Taylor? — Ele responde se antecipando ao que eu tenho vontade de perguntar.
— Sim Sr. E tudo em ordem também com a Srta Steele.
— Muito bem então, Taylor. Até mais.
—Até daqui a pouco Sr. Grey.
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Chego ao jantar, cumprimento vários figurões conhecidos e fico esperando o transcorrer de forma maçante. Não vejo a hora de fugir dali. Ainda bem que estou alimentado, senão meu humor estaria terrível. Depois de muitos cumprimentos e o início das doações, me afasto um pouco do barulho e ligo novamente para ela. É a terceira vez e nada. Já não consigo mais prestar atenção ao jantar. O que será que está acontecendo com ela? Eu poderia ligar para Elliot, ele já está lá, mas causaria tanto transtorno...
É melhor me acalmar e fazer a minha doação generosa. Assim que acabo de fazer a doação sou surpreendido pela voz tão conhecida.
— Hello, My Boy! Que prazer em revê-lo!
—Elena! Realmente já faz dias que não nos encontramos.
—Pois é, desde o nosso último encontro. Que foi... péssimo!
—Tem razão Elena. Sente-se aqui, vamos conversar um pouco.
Levanto-me e a cumprimento com um beijo no rosto. Puxo a cadeira para ela sentar. Está impecável como sempre. Veste um vestido longo, azul turquesa que lhe cai muito bem. As unhas, os cabelos e a maquiagem estão impecáveis.
—Preciso pedir desculpas, Elena. Fiquei muito mal por ter lhe tratado com tanta indelicadeza.
—Realmente. Nada gentil da sua parte. Mas aceito seu pedido de desculpas, afinal eu forcei uma situação.
—Forçou tanto que chegou a falar de amor...
—Claro. Continuo achando que nos amamos sim. Mas da nossa maneira.
—Como assim, Elena? Nunca trocamos juras de amor. Nosso lance sempre foi outro.
—Sim, My Boy! Nosso mundo não permite este tipo de amor com flores e corações, casa, cachorrinho, paixão, filhos... Nosso amor é pelo perigo, pelo poder, pela dor, pelo prazer, pelos tapas e pelos beijos.
—Era deste tipo de amor que você estava falando naquele dia, então?
—Claro. Este é o nosso jeito de amar. O que você entendeu?
—Sei lá, entendi que você estava surtada aquele dia. — Relaxo e dou um sorriso franco para minha amiga, que retribui na mesma intensidade.
—Acho que estava mesmo. Fiquei doida em ver sua insegurança e quis fazer você reencontrar o caminho, o eixo.
As palavras de Elena me fazem pensar.
— Você também tem certeza de que eu não sou capaz de propiciar a uma mulher flores e corações, não é Elena?
—Ih... vejo que minha intuição estava certa. Você ainda esta com aquela Anastasia?
—Estou.
—E como é esta relação, ela é mesmo sub? Da última vez você estava em dúvida.
—Acho que não Elena. Ainda não tenho certeza de nada. Digamos que estou descobrindo muitas novidades com ela.
—Novidades? Que tipo de novidades?
—Bem... baunilha e....
—E...
—Virgindade...
Elena engasga com o vinho que está tomando.
—Ela é mesmo virgem? Você disse que o comportamento dela era quase virginal.
—Era...
Elena me olha com olhos arregalados, incrédulos.
—Meu Deus! Por isso você sumiu. Como está sendo tudo isto para você?
—Bem, muito confuso, muito diferente e...fascinante.
Elena me encara profundamente. Daquele jeito dominador que sabe perscrutar minha alma e que eu conheço tão bem.
—Cuidado, querido! Você pode se ferir. Acho sinceramente que você está envolvido. Mas cuidado para não se machucar.
—Eu tenho medo de me machucar, Elena. Mas tenho mais medo ainda de ferir Anastasia. Você sabe que eu sou fodido, que não sei amar, que minha alma é escura.
Ela dá outro grande gole em seu vinho antes de responder.
—O que eu sei é que você é talentoso, lindo, vencedor. Não deixe nunca mais ninguém te dizer o contrário disso.
—Mas tenho medo de não ser suficiente para ela.
—Calma, My Boy! Talvez ela não seja suficiente para você, para suas necessidades. Afinal, uma virgem... Mas não se diminua desta maneira.
—Não estou me diminuindo. É apenas constatar o inevitável.
—Não. Não é. Pare de se autodepreciar agora mesmo! Voc~e tem visto o Flynn?
—Ele está viajando. A semana que vem vou encontrá-lo, mas ele ainda não sabe destas novidades. E eu, bem, não tenho com quem me abrir.
Tomamos outro gole de vinho nos olhando e refletindo.
—Você está curtindo estas novidades, não está? —Ela me pergunta.
—Sinceramente? Muito, além do que eu poderia imaginar. Penso nela o dia todo, quero estar com ela, sinto calma ao seu lado.
—E... na cama?
Demoro um pouco para responder, buscando as palavras perfeitas.
—Elena você acredita em feitiçaria?
Ela dá uma gostosa gargalhada antes de responder.
—Não. Por quê?
—Por que estou completamente enfeitiçado por ela. Não dá para negar.
— Christian, você está enlouquecido de paixão. Posso ver nos seus olhos.
—Para quem não acredita em feitiçaria, agora acredita em adivinhação Elena?
—Não, My Boy! Eu acredito no poder da atração, da sedução, somente isto. Minha experiência diz que você se rendeu, mesmo que não queira acreditar.
—Não acho que seja isto, Elena. Sinceramente, não sei explicar o que é. Mas tenho certeza de uma coisa: é muito bom.
—Então viva este momento, querido. Aproveite!
—Mas ela quer mais. Ela quer flores e corações...
—E provavelmente casa com cachorro e crianças...
Noto o alerta de Elena. Realmente nunca tinha me apegado a estes detalhes, mas preciso refletir se não corro o risco de criar um mundo de expectativas em Anastasia. Mundo que nunca poderei propiciar a ela.
—Eu não tenho capacidade para dar isto a ninguém.
—Tem capacidade para ir devagar. Vá sondando o território, viva este momento com carinho. Não deixe ela te machucar. Vou torcer para que dê certo, mas estarei de olho.
—Ah, Elena. Não sou mais “seu garoto”. Você já devia ter percebido isso. Aliás, poderia parar de me chamar desta maneira. Não combina mais em nossa relação de amigos.
Ela engole em seco e numa altivez inabalável dispara a falar.
—Você sempre será My Boy para mim. Vou sempre me lembrar daquele menino tenso, perdido, que ajudei a ter segurança e a construir um império. Um menino que se tornou um homem maravilhoso e me ajudou a ser a mulher poderosa que sou, livre dos calmantes, das surras do marido, da insegurança. E ai daquela que tentar te ferir e desconstruir tudo o que ajudei você a se erguer. Estarei de olho, na torcida, mas de olho!
As palavras dela me reconfortam. Ela tem o dom de me passar altivez e segurança. Não é a toa que será sempre minha mentora, a quem devo respeito. Além de ser minha eterna amiga.
—Obrigada, minha querida amiga. Mas preciso ir. Amanhã a Mia chega cedo e eu vou buscá-la no aeroporto. Foi muito bom falar com você.
—Foi mesmo. Vamos almoçar esta semana? Precisamos discutir negócios.
—É verdade. Está tudo bem no salão?
—Agora sim, depois que arrumaram o sistema de dados. Foi uma loucura aquele dia.
—Andrea me contou. Te ligo esta semana, está bem?
—Vou aguardar, querido.
—Como vai o Isaac?
Ela sorri e encara seu novo submisso que está nos observando a alguma distância. Obviamente obedecendo ao seu comando.
—Muito bem, está respondendo muito bem ao treinamento. Ele tem potencial.
— Estou perdoado então?
—Depende, só se você me perdoar primeiro da atitude tão insana daquela noite.
—Aquela noite? Do que você está falando? Não lembro de noite nenhuma.
Abraçamos-nos com uma boa gargalhada e nos despedimos. Sinto-me aliviado com esta conversa.
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Chegando em casa ligo novamente, pela quinta vez, e cai na caixa postal. Estou ficando irado com isto. Ela tem poder de me desestabilizar. Não entende que eu preciso de notícias. Resolvo deixar um recado:
“Eu acho que você precisa aprender a administrar minhas expectativas. Eu não sou um homem paciente. Se você disser que vai entrar em contato comigo quando terminar de trabalhar, então você deve ter a decência de fazê-lo. Caso contrário, eu me preocupo, e não é uma emoção que eu estou familiarizado, e eu não tolero isto muito bem. Ligue-me.”
Espero alguns minutos e nada. Ela não responde. Será que não quer falar comigo? —Porra, o que foi agora?
Estou com tanta raiva que resolvo escrever um e-mail.
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De: Christian Grey
Assunto: Onde você está?
Data: 27 de maio 2011 22:14
Para: Anastasia Steele
‘Eu estou no trabalho. Vou enviar e-mail para você quando eu chegar em casa.’
Você está ainda no trabalho ou você empacotou o seu telefone, BlackBerry e MacBook?
Ligue-me, ou posso ser forçado a ligar para Elliot.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Fico sentado no sofá tomando um vinho e tentando não pensar nela, refletindo sobre as palavras de Elena: Nosso mundo feito de tapas e beijos, poder e sedução. Sei que fui lapidado na sombra e escuridão. O mundo de Anastasia é diferente. É sol, poesia, sonho, paixão, romance, flores, corações, casa, cachorro...
Sou interrompido pelo seu toque. Finalmente ela me liga. Respiro fundo para acalmar meus batimentos cardíacos
— Oi — Digo baixinho, aliviado por ela me ligar.
— Oi — Ela murmura.
— Estava preocupado com você.
— Eu sei. Eu sinto muito por não responder, mas eu estou bem.
Ainda bem, senão não sei como seria minha reação se acontecesse algo com ela.
— Você teve uma noite agradável? — Digo cortês.
—Sim. Nós terminamos de empacotar e Kate e eu compartilhamos comida chinesa com José. —Como assim? O babaca filho da puta foi se despedir?
Sinto uma ira tamanha crescer em minha mente. Ele sempre tentando marcar território. Mas me mantenho calmo e finjo não estar puto de raiva. Fico em silêncio, procurando uma postura zen antes que exploda em palavras agressivas.
— E você? — ela me pergunta com voz cautelosa.
Eventualmente, suspiro e respondo.
— Eu fui a um jantar para angariar fundos. Foi mortalmente maçante. Saí logo que pude.
As palavras verdadeiras de Elena ainda ecoam nos meus ouvidos. Elas deixam clara a impossibilidade deste relacionamento, tudo por causa da nossa dualidade: ela é luz, eu sou escuridão. Fico triste ao pensar nisso e não vou falar que encontrei Elena, senão quem vai ficar desestabilizada emocionalmente será ela. Não quero que isto aconteça. Para minha surpresa ela diz exatamente o que estou sentindo.
— Eu gostaria que você estivesse aqui.
— Gostaria? — Murmuro suavemente. —Será que gostaria mesmo? Será que o babaca do José não é melhor para ela do que eu?
— Sim! — Ela responde.
Depois de uma eternidade, e de muitos pensamentos confusos e frustrantes, suspiro.
— Verei você domingo?
— Sim, domingo.
— Boa noite.
— Boa noite, Senhor.
Ela me pega desprevenido, e ao ouvir “Senhor” suspiro com um sopro de esperança.
— Boa sorte com sua mudança amanhã, Anastasia. — Digo com voz suave pendurado ao telefone como adolescente, sem querer desligar.
— Você desliga. — Ela sussurra e eu sorrio, pela primeira vez.
— Não, você desliga. —Digo, começando a me alegrar novamente.
— Eu não quero.
— Nem eu.
— Você estava muito bravo comigo?
— Sim.
— Você ainda está?
— Não.
— Então você não vai me castigar?
— Não. Eu sou um cara que age conforme o momento.
— Eu notei.
— Você pode desligar agora, Srta Steele.
— Você realmente me quer, Senhor?
— Vá para a cama, Anastasia.
— Sim, Senhor.
Nós dois permanecemos na linha.
— Você sempre acha que vai ser capaz de fazer o que diz? — Estou divertido e irritado ao mesmo tempo.
— Talvez. Vamos ver depois de domingo. — E desliga o telefone.
Tento me animar, pensar positivo. Penso novamente no que ouvi hoje e meu mundo fica abalado. Na verdade Anastasia é poder, eu sou ilusão.
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