—Você me
deve. Vim buscar o que meu: você Grey!
Sento na cama suado e morrendo de
sede. Demoro um pouco para perceber que estou no quarto de jogos. Aos poucos a
lembrança da noite anterior começa a ventilar em minha memória.
Anastasia dorme tranquilamente, um
sono pesado, que recompõe suas energias. Cheiro seus cabelos para me acalmar das
imagens que povoaram meu sono e da voz que veio me cobrar: Leila! Eu realmente
devo para ela. Algo que ela cobrou por tantos anos e eu não consegui dar, como
bem diz Elena “o mundo de flores e
corações”.
Olho para a decoração do quarto de
jogos e tudo o que nele contém: objetos de dor e prazer e memórias, muitas
memórias... Memórias de prazer e muita dor... Dor causada no coração de algumas
mulheres que por aqui passaram.
Mulheres... Tão fácil tê-las a meus
pés e tão difícil decifrá-las, compreendê-las e torná-las felizes. Sou mesmo
lobo faminto em busca de carne e quando sacio minha fome, rapidamente busco um
novo alimento, pois é isso que elas são, meu alimento, minha energia.
Menos uma... A que repousa lindamente
deitada nesta cama. Esta alimenta minha alma muito além do meu corpo. Olho ao
redor e sinto no fundo das minhas entranhas que ela é uma peça solta em toda
esta história, que ela não pertence a este ambiente, que não seria capaz de ser
o homem que ela merece ter. Somos o casal Luz e Escuridão, tempestade e brisa
suave, anjo e demônio. —Sim Grey, corpos
que se entrelaçam e almas que não se alcançam...
Ainda nu, pego minha linda Anastasia
no colo e a levo para dormir em meu quarto. Ela sequer percebeu a mudança de
ambiente. Repousa tranquilamente trazendo-me paz e companhia, quebrando minha
solidão. Olho para o relógio que está na cabeceira da cama, são três horas da manhã
e o sono não vem. Visto minha calça de pijama, fecho a porta do quarto com
cuidado para não acordá-la e vou para a sala.
As luzes de Seattle iluminam minha
masmorra de vidro. Olho através das grandes vidraças e noto que a cidade dorme,
algum carro aqui, outro ali passa em alta velocidade aproveitando as ruas
desertas. Notívagos como eu. Perturbados em busca de algum consolo. Sirvo-me de
um copo de água gelada, sento ao piano e piloto as teclas, faço como os
desgraçados que teimam em adentrar a noite com seus carros em busca de
aventuras e consolos.
Toco Bach, Vivaldi, Sibelius, Brahms
e a música invade a aspereza de meu coração, a velocidade de meus pensamentos
incontrolados. Só há um bálsamo que me acalma mais que a música... O bálsamo
que caminha lindamente envolta numa centelha de luz, que invade a janela e que
a recobre de uma aura magnífica. Vestida com o roupão, minha mulher caminha
lentamente em minha direção.
— Você deveria estar dormindo. — Repreendo
suavemente.
— E você também, são cinco horas da manhã. — Ela replica, não tão suavemente.
Olho para ela, meus lábios se
contorcendo com um vestígio de sorriso.
— Você está me repreendendo, Senhoria Steele?
— Sim, Senhor Grey, eu estou.
— Bem, eu não consigo dormir. — Franzo o
cenho tentando disfarçar minha raiva.
Ela senta ao meu lado no banco
do piano, colocando sua cabeça em meu ombro nu para assistir meus dedos
acariciarem as teclas. Faço uma pausa fracionada e então continuo até o final
da peça.
— O que foi isso? — Ela pergunta baixinho.
— Chopin. Opus 28, número 4. Em E menor, se você está interessada. — Murmuro.
— Estou sempre interessada no que você faz.
Viro-me e pressiono suavemente meus
lábios contra seu cabelo, me deliciando com seu cheiro e sua voz reconfortante.
— Eu não quis acordar você.
— Você não acordou. Toca outra.
— Outra?
— A peça de Bach que você tocou na primeira noite que eu fiquei.
— Oh, o Marcello.
Começo a tocar vagarosamente e ela se inclina contra em meu ombro, repousando
sua cabeça. As notas tristes e emotivas fazem um redemoinho lento e melancólico
ao nosso redor, ecoando pelas paredes. É uma peça assombrosamente bela, mais
triste ainda que a de Chopin e nos perdemos na beleza do lamento. De certa
forma, ela reflete como eu me sinto. Logo a peça acaba.
— Porque você só toca música tão triste? —Ela pergunta.
Senta ereta e me olha enquanto encolho
os ombros em resposta para sua pergunta, não sei o que responder.
— Então você só tinha seis anos quando começou a tocar? — Ela pergunta.
Concordo e completo:
— Eu me atirei para aprender piano para agradar a minha nova mãe.
— Para caber em uma família perfeita?
— Sim, por assim dizer... — Digo
evasivamente. — Porque você está acordada? Você
não precisa se recuperar dos esforços de ontem?
— São oito da manhã para mim. E eu preciso tomar minha pílula.
Levanto as sobrancelhas em
surpresa.
— Bem lembrado! — Murmuro, surpreso e
impressionado. Meus lábios capricham num meio sorriso. — Só você começaria um tratamento específico de anticoncepcionais
em um fuso horário diferente. Talvez você devesse esperar meia hora e então
outra meia hora amanhã de manhã. Assim você poderá acertar um horário melhor
para tomá-las.
— Bom plano. Então o que nós devemos fazer por meia hora? — Pisca inocentemente para mim.
— Eu posso pensar em algumas coisas. — Sorrio
satisfeito com sua iniciativa.
— Por outro lado, nós poderíamos conversar... — Sugere calmamente me provocando.
Franzo a testa.
— Eu prefiro o que tenho em mente. — E
a puxo para meu colo.
— Você sempre prefere fazer sexo a conversar. — Ri, já se equilibrando segurando em meus braços.
— Verdade. Especialmente com você. — Cheiro
seu cabelo e começo uma trilha contínua de beijos da sua orelha até a garganta.
— Talvez no meu piano. — Sussurro. —Grande ideia, Grey!
— Eu quero esclarecer uma coisa. — Ela
sussurra...
Pauso momentaneamente com
curiosidade antes de continuar meu ataque sensual.
— Sempre tão ansiosa por informação, Srta Steele. O que precisa ser
esclarecido? — Respiro contra sua pele na base
do seu pescoço, continuando meus suaves beijos gentis.
— Nós. — Ela sussurra enquanto fecha os
olhos.
— Humm. O que sobre nós? — Pauso
minha trilha de beijos ao longo do seu ombro.
— O contrato.
Levanto a cabeça para olhar para
ela, surpreso com a resposta. Acaricio os dedos na sua bochecha.
— Bem, eu acho que o contrato ficou obsoleto, você não acha? — Minha voz esta baixa, meus olhos suaves.
— Obsoleto? — Ela
indaga.
— Obsoleto. — Sorrio enquanto ela me olha de
boca aberta, intrigada.
— Mas você estava tão interessado no contrato.
— Bem, isso foi antes. De qualquer forma, as regras ainda seguem de
pé. — Minha expressão endurece um
pouco.
— Antes? Antes do que?
— Antes... — Pauso com cautela.— Antes que houvesse “mais.” Encolho os ombros.
— Oh.
— Além do mais, nós estivemos na sala de jogos duas vezes e você
não fugiu gritando espantada...
— Você espera que eu faça isso?
— Nada do que você faz é esperado, Anastasia... — Digo com sinceridade.
— Então, deixe-me ser clara. Você só quer que eu siga as regras do
contrato todo o tempo, mas ignora o resto estipulado?
— Exceto na sala de jogos. Eu quero que você siga o espírito do
contrato na sala de jogos e, sim, eu quero que você siga as regras, todo o
tempo. Então eu sei que você estará segura e eu serei capaz de ter você a
qualquer momento que queira.
— E se eu quebro uma das regras?
— Então eu vou puni-la.
— Mas você não vai precisar da minha permissão?
— Sim, irei.
— E se eu digo não?
Olho-a por um momento, confuso
com a pergunta que me pega de surpresa.
— Se você disser não, você vai dizer não. Eu terei que encontrar
uma maneira de persuadi-la.
Ela se afasta de mim e fica em
pé. Sua atitude me intriga e fico cauteloso, pronto para a defensiva.
— Então, o aspecto da punição permanece.
— Sim, mas só se você quebrar as regras.
— Eu vou precisar relê-las... — Ela diz.
— Eu vou buscá-las pra você. — Digo em
tom profissional.
Vou até o meu escritório
rapidamente e pego o contrato na gaveta. Quando retorno a vejo na cozinha
fervendo água numa chaleira. Depois, sento num dos bancos e a observo retirar a
pílula da bolsa e engolir com um gole de água.
Ela se volta para mim e empurro o contrato em sua direção.
— Aqui está.
Ela começa a ler o contrato
corrigido após nosso acerto.
___________________________
REGRAS
Obediência:
A Submissa
irá obedecer qualquer instrução dada pelo Dominante imediatamente sem hesitação
ou reserva e de uma forma eficiente. A Submissa irá concordar com qualquer
atividade sexual considerada apta e prazerosa pelo Dominante exceto aquelas
atividade que são indicadas em duros limites.
(Anexo A).
Ela fará tão avidamente e sem hesitação.
Sono:
A Submissa
garantirá que consiga um mínimo de oito ou sete horas de sono por noite quando
ela não está com o Dominante.
Comida:
A Submissa
comerá regularmente para manter sua saúde e bem-estar de uma listas prescritas
de alimentos (Anexo 4). A Submissa não terá lanche entre as refeições, com a
exceção de frutas.
Roupas:
Enquanto
estiver com o Dominante, A Submissa apenas vestirá roupas aprovadas pelo
Dominante. O Dominante irá fornecer um orçamento para roupas da Submissa, a
qual a Submissa deve utilizar. O Dominante deverá acompanhar A Submissa nas
compras das roupas desse caráter.
Exercícios:
O Dominante
deverá fornecer a Submissa um treinador pessoal quatro vezes por semana em
sessões de uma hora de duração em horários a ser mutuamente acordados entre o
treinador e a Submissa. O treinador informará ao Dominante o progresso da
Submissa.
Higiene Pessoal / Beleza:
A Submissa
irá manter-se limpa e raspada e/ou depilada em todos os momentos. A Submissa
visitará um salão de beleza de escolha do Dominante em momentos a ser decididos
pelo Dominante, e passará por qualquer tratamento que o Dominante julgar
conveniente.
Segurança Pessoal:
A Submissa
não vai beber em excesso, fumar, usar drogas ilícitas ou colocar-se em qualquer
perigo desnecessário.
Qualidades Pessoais:
A Submissa
não entrará em quaisquer relações sexuais com alguém que não seja o Dominante.
A Submissa se comportará respeitosa e de forma modesta em todos os momentos.
Ela deve reconhecer que seu comportamento é um reflexo direto sobre o
Dominante. Ela deve ser responsabilizada por quaisquer malefícios, erros
cometidos e mau comportamento cometidos quando não estiver na presença do
Dominante.
O não
cumprimento de qualquer regra acima resultará em punição imediata, cuja
natureza deverá ser determinada pelo Dominante.
__________________________
Em seguida me pergunta:
— Então a coisa da obediência ainda está em pé?
— Oh, sim. — Sorrio.
Ela balança a cabeça divertida e
revira os olhos.
— Você acabou de revirar os olhos para mim, Anastasia? — Suspeito.
—Possivelmente, depende de qual será sua reação. —Responde desconfiada.
— O mesmo de sempre... — Digo
enquanto balanço a cabeça ligeiramente, meus olhos já se abrindo em excitação e
imaginando mil situações.
Ela engole instintivamente e me
encara.
— Então... — É agora, Grey. Ela vai topar jogar este jogo.
— Sim? — Lambo o lábio inferior em
estado de pura excitação.
— Você quer me espancar agora?
— Sim. E eu farei.
— Oh, mesmo, Senhor Grey? — Ela me
desafia, sorrindo de volta para mim.
— Você vai me impedir? —Pergunto em tom provocativo.
— Você vai ter que me pegar primeiro.
Meus olhos se arregalam em uma
fração de segundo e eu sorrio, lentamente ficando em pé, me animando com suas
provocações.
— Oh, mesmo, Senhorita Steele?
A mesa de café está entre nós. Ela
continua me encarando e morde o lábio deliberadamente.
— E você está mordendo o lábio. — Respiro
excitado, me movendo lentamente para minha esquerda enquanto ela faz o movimento
contrário tentando escapar.
— Você não faria. — Ela provoca. — Afinal, você revira o olhar também. — Ela tenta argumentar comigo, me provocando. Continuamos a nos
mover.
— Sim, mas com esse joguinho você acaba de subir meu nível de
excitação. — Meus olhos incendeiam e uma antecipação
selvagem me domina.
— Eu sou bastante rápida, você sabe... — Diz com indiferença.
— Eu também.
Eu fico a perseguindo, em minha
própria cozinha.
— Você vai vir sem resistir? — Pergunto.
— Alguma vez eu já fui?
— Srta Steele, o que você quer dizer? — Sorrio. — Será pior para você se eu tiver
que pegá-la.
— Isso apenas se você me pegar, Christian. — E nesse momento, estou em combustão alucinado nesta caça.
— Anastasia, você pode cair e se machucar. O que a colocará em
violação direta a regra número sete.
— Desde que te conheci Senhor Grey, estou em perigo permanente, com
regras ou sem.
— Sim você está. — Pauso com seu comentário inteligente
e minha testa enruga ligeiramente.
De repente, dou um o bote de surpresa
fazendo-a gritar e correr para a mesa de jantar, conseguindo escapar, colocando
a mesa entre nós. Meu coração está martelando e a adrenalina disparou pelo meu
corpo... isso é muito excitante. Eu sou uma criança de novo, embora isso não
esteja certo. Eu a observo cuidadosamente, enquanto caminho deliberadamente em sua
direção.
— Você certamente sabe como distrair um homem, Anastasia.
— Nosso objetivo é satisfazer, Senhor Grey. Distraí-lo do
que?
— Vida. O universo. — Balanço a
mão vagamente.
— Você realmente parecia muito preocupado enquanto estava tocando.
Paro e cruzo os braços, me
divertindo com a situação.
— Nós podemos fazer isso durante o dia todo, Baby! Mas eu vou
pegá-la e será pior para você quando eu fizer.
— Não, você não vai. — Ela parece
excessivamente confiante.
— Qualquer um poderia pensar que você não quer que eu te pegue. —Digo.
— Eu não quero. Esse é o ponto. Para mim o castigo é como você ser
tocado por mim.
Mas esta afirmação me desarma
totalmente. Fico a encarando como se tivesse me dado um tapa. A brincadeira se
esvai e eu entro em alerta.
— É assim que você se sente? — Sussurro
triste e com medo da resposta.
Ela franze a testa para
responder.
— Não, quer dizer não me afeta tanto quanto você ser tocado, mas
isso te dá uma ideia de como me sinto. — Ela
murmura, olhando ansiosamente para mim.
— Ah, sim...— Respondo refletindo.
Fico completa e totalmente
perdido, como se ela tivesse puxado o tapete debaixo dos meus pés. Tomando uma respiração
profunda, ela se move ao redor da mesa até que fica em pé na minha frente,
olhando para meus olhos apreensivos.
— Você odeia isso tanto assim? — Pergunto, meus
olhos horrorizados devido a comparação que ela fez.
— Bem... não! — Ela tenta me tranquilizar. — Não. Eu me sinto ambígua sobre isso. Eu não gosto, mas não odeio.
— Mas na noite passada, na sala de jogos, você... — Falo confuso.
— Eu faço isso para você, Christian, porque você precisa disso. Eu
não. Você não me machucou na noite passada. Aquilo foi em um contexto diferente
e eu posso racionalizar aquilo internamente, além do mais confio em você. Mas
quando você quer me punir, me preocupo se você vai me machucar.
Meus olhos cinzentos brilham
como uma tempestade turbulenta. O tempo passa,
se expande e esvai antes de conseguir responder em voz baixa, aquilo que
está em minhas entranhas.
— Eu quero machucar você. Mas não quero provocar uma dor maior que
não seja capaz de suportar.
— Por quê? —Ela
responde com os olhos arregalados.
Passo a mão pelo cabelo e
encolho os ombros.
— Eu apenas preciso disso. — Pauso, a
olhando com angústia e fecho os olhos. — Eu não
posso dizer a você, o porquê. —Sussurro.
— Não pode ou não vai?
— Não vou.
— Então você sabe o porquê.
— Sim.
— Mas você não vai me dizer.
— Se eu digo, você irá sair correndo gritando dessa sala e nunca
vai querer retornar. — Eu a olho com cautela. — Eu não posso correr esse risco, Anastasia.
— Você quer que eu fique?
— Mais do que você pode imaginar. Eu não suportaria perder você. —E, pela primeira vez, começo a admitir a mim mesmo que sinto algo
muito maior por ela.
Olho para ela e, repentinamente,
a puxo para meus braços e a beijo apaixonadamente. Isso a pega completamente de
surpresa e ela sente meu pânico e necessidade desesperadora.
— Não me deixe. Você me disse em sonhos que nunca me deixaria e
implorou para eu não deixá-la. — Murmuro contra seus lábios,
abrindo meu coração, expondo minha alma nua a seus pés para que ela decida o
que fazer.
— Eu não quero ir. — Ela sussurra enternecida e com
a voz mais carinhosa deste planeta.
Meu medo é nu e óbvio, mas estou
perdido em algum lugar em minha escuridão. Meus olhos arregalados, desolados e
torturados. Já não sei mais o que fazer, contra ou a favor do que estou
lutando. Não sei mais qual é minha causa, qual é minha real personalidade.
Neste momento sou aquele garoto escondido na escuridão do guarda-roupa, a
espera do castigo que pode chegar a qualquer momento. Posso perder tudo. Tudo,
menos ela. Ela apenas me encara e de repente, diz:
— Mostre-me.
— Mostrar a você? —Num
primeiro momento não entendo sua proposta.
— Me mostre o quanto isso pode machucar.
— O que? —Respondo
incrédulo.
— Me punir. Eu quero saber o quão ruim isso pode ficar.
Dou um passo para longe dela,
completamente confuso. Que muralha ela quer romper, que caminho quer desbravar?
— Você tentaria? —Pergunto
confuso e cético.
— Sim. Eu disse que faria. — Me encara
altiva.
Fico confuso com sua atitude e pisco
para ela. Estamos brincando com fogo. —E com fogo não
se brinca, Grey. Alguém pode sair queimado...
— Ana, você é tão confusa. —Só consigo dizer isso, realmente não entendo aonde ela quer chegar.
— Estou confusa demais. Estou tentando trabalhar nisso. E você e eu
vamos saber, de uma vez por todas, se eu posso fazer isso. Se eu posso lidar
com isso, então talvez você... — As palavras faltaram e a olho
espantado. Agora entendo o que ela está tentando fazer. Por um momento, fico
consternado, ela inteligentemente tentará uma troca: se submete a mim, eu
deverei deixá-la me tocar. —É um jogo
justo, Grey!
Sem pensar muito expresso em meu
rosto minha determinação. Aperto os olhos, olhando para ela especulativamente
ponderando as alternativas. Sou um dominador e se minha sub quer que faça algo,
tenho a obrigação de agradar, de satisfazer. Abruptamente, para não desistir da
ideia, agarro seu braço em um aperto firme e a conduzo para a sala de jogos. Prazer
e dor, recompensa e castigo, ela vai conhecer meu mundo real.
— Vou mostrar a você o quão ruim pode ser e
você pode decidir o que fazer. — Pauso na porta. —Você está pronta para isso? —Preciso ter certeza se ela realmente quer.
Ela balança a cabeça concordando,
decidida. Abro a porta e ainda apertando seu braço, agarro o cinto da
prateleira ao lado da porta. Então, a levo até o banco de couro vermelho no
canto afastado do quarto.
— Se dobre sobre o banco. — Murmuro
baixinho.
Ela se dobra obedientemente
sobre o couro liso e macio. Deixo-a com o roupão.
— Nós estamos aqui porque você disse sim, Anastasia. E você correu
de mim. Vou bater em você seis vezes e você vai contar comigo. —Agora, nesta sala onde reina o Dom
que habita em mim, as regras devem ser sempre claras: ela quis, ela propôs é
consenso, então assim será.
Levanto a barra do seu roupão e
por alguma razão, isso parece mais íntimo do que estar nua. Acaricio
gentilmente seu traseiro, correndo a mão quente pelas duas nádegas e então para
o alto das suas coxas.
— Estou fazendo isso para que se recorde de não correr de mim, por
mais excitante que isso seja, eu não quero que você corra de mim. — Sussurro.
Ela está consciente da ironia.
Estava correndo para evitar isso. Tinha que ter aberto os braços e corrido para
mim não para longe.
— E você afastou seu olhar de mim. Você sabe como eu me sinto sobre
isso. — De repente, se foi aquele medo
irritado e nervoso em minha voz. Meu tom, na forma como coloco os dedos nas suas
costas, faz com que ela sinta que eu estou no comando e que ela me deve
obediência. Fazê-la contar cada cintada demonstra meu domínio sobre ela. Olho
sua bunda macia e branca, ergo a mão e solto o braço com força. A batida do
cinto é dura, firme. Ela grita alto involuntariamente e respiro profundamente.
— Conte, Anastasia! — Ordeno.
— Um! — Ela grita.
Bato de novo e a segunda
chicotada forma mais um rastro rosado em sua bunda.
— Dois! — Ela grita.
Minha respiração fica irregular
e áspera. É um momento crucial para nós. E o prazer de estar a punindo me
enlouquece. O cinto atravessa sua carne novamente.
— Três! — Ela grita novamente. E eu me
animo e desço o braço com força.
— Quatro! — Ela grita quando o cinto a
açoita novamente. Bato de novo.
— Cinco. — Sua voz é mais um soluço,
embargado e sufocado, mas ela resiste bravamente. Não diz nenhuma palavra de
segurança o que me faz crer e ficar confiante no sexto e derradeiro golpe.
— Seis! — Ela sussurra enquanto eu solto
o cinto no chão, feliz com sua coragem. A puxo para meus braços, sem fôlego e
compassivo. É o momento de dar reconforto e acariciá-la. Minha menina dedicada
e corajosa. Mas para minha surpresa, sua reação me abala.
— Deixe-me ir... não... — Ela sai do
meu alcance, empurrando-me para longe. Lutando contra mim. — Não me toque! — Diz enfurecida.
Não entendo sua reação de
loucura e ódio, depois de ter assistido a sua brava resistência e dedicação ao
meu jogo. Fico confuso ao perceber que ela está chorando. Limpa as lágrimas com
raiva com as costas das mãos, olhando para mim de um jeito que nunca vi. Ela é
pura tristeza e raiva.
— Isso é o que você realmente gosta? Eu, assim? — Usa a manga do roupão para enxugar o nariz. Eu a olho com
cautela não sei como agir neste momento
— Bem, você é um fodido filho da puta. —Ela revela uma voz que nunca
imaginei existir.
— Ana... — Eu imploro, chocado.
— Não se atreva a me chamar de Ana! Você precisa resolver essa
merda, Grey! — Diz isso e se vira com firmeza,
me abandonando sozinho na sala de jogos.
Fico alguns segundos congelado,
sem conseguir me mover. —Que merda eu fiz?
Ela conheceu a selvageria da minha
escuridão. Não vai aguentar conviver comigo depois disso. Dou um tempo para que
ela se recomponha e para que eu crie coragem de ir ao seu encontro com esta
minha cara de babaca. Observo que ela está no quarto das subs. Entro no quarto com cautela
depois de pegar o Kit Grey de primeiros socorros. Coloco o unguento de arnica e
o Advil no criado mudo e subo na cama atrás dela. Seus soluços dilaceram meu
coração.
— Silêncio... — Respiro e ela não reage, se
mostra paralisada.
— Não brigue comigo, Ana, por favor. —Sussurro. Gentilmente, a puxo para meus braços, enterrando o nariz
no seu cabelo, beijando seu pescoço.
— Não me odeie. — Sorvo suavemente o cheiro de
sua pele, minha voz dolorosamente triste, meu coração apertado. Ela libera uma nova onda de choro e soluços
silenciosos.
Continuo a beijando suavemente,
com ternura, mas ela permanece distante e desconfiada. —Amedrontada,
Grey. Ela está amedrontada, seu monstro de merda!
Ficamos deitados juntos assim,
sem dizer qualquer coisa por muito tempo. Eu apenas a seguro, sem forças falar.
Minha cabeça lateja, meu coração não sabe mais como bater. Muito gradativamente
ela relaxa e para de chorar. O amanhecer chega com cautela. A luz suave fica
mais brilhante conforme a manhã se move e permanecemos deitamos quietamente.
Não quero que amanheça. Tenho medo que assim que a luz invada a manhã ela se
fortaleça e parta me deixando no abismo da solidão.
— Eu trouxe para você um pouco de Advil e creme de arnica. — Digo depois de muito tempo, tomando um pouco de coragem.
Ela se vira muito lentamente em
meus braços e me encara. Sua cabeça apoiada em meu braço. Seus olhos estão num tom
azul escuro indecifrável e seu rosto é uma palidez total. Mantenho meus olhos
fixos nos dela em busca de algum sinal que possa salvar-me desta aflição, mas
nada. Não consigo piscar diante de tamanha temeridade do que possa vir. Ela estica
sua mão, acaricia minha bochecha e corre a ponta dos dedos por minha barba.
Fecho os olhos e sinto seu toque que me faz tanto bem. A sensação é muito dura,
como se ela estivesse se despedindo de mim. Minha alma chora e clama proteção.
— Desculpe. — Ela sussurra e eu sinto que
isto será nossa despedida.
Abro os olhos intrigado. Do que
ela me pede desculpas se o idiota aqui sou eu?
— Pelo o que?
— Pelo o que eu disse.
— Você não me disse nada que eu não soubesse. — E meus olhos suavizam com alívio. — Desculpe-me, eu machuquei você. —Digo sinceramente arrependido.
Ela dá de ombros.
— Eu pedi por isso. —Ela engole
e continua.— Eu não acho que posso ser tudo o
que você quer que eu seja. — Ela sussurra. Meus olhos se
arregalam e pisco, o temor se apodera novamente de mim.
— Você é tudo o que eu quero que seja. —Respondo com voz embargada.
— Eu não entendo. Eu não sou obediente e você pode estar certo como
o inferno que eu não vou deixar você fazer aquilo
comigo de novo. E é isso o que você precisa, você me disse.
Fecho os olhos novamente numa
infinidade de emoções que cruzam minha alma. Quando os reabro, eles refletem o
quanto estou desolado.
— Você está certa. Eu deveria deixar você ir. Eu não sou bom para
você.
— Eu não quero ir. — Ela sussurra me encarando séria.
As lágrimas nadam em seus olhos mais uma vez.
— Eu não quero que você vá também. — Sussurro
com um fundo de voz que me resta. Estico a mão, gentilmente acaricio seu rosto
e enxugo uma lágrima que cai com meu polegar.— Eu vim para a vida desde que conheci você. — Meu polegar traça o contorno do seu lábio inferior.
— Eu também. — Ela sussurra. — Eu me apaixonei por você, Christian.
Meus olhos arregalam novamente,
mas dessa vez com medo puro e indissolúvel. Tanto que esperei ouvir isso, mas
hoje não soa como eu gostaria. Logo depois da merda que fiz, da mágoa que
plantei em seu coração puro. —Admita, bastardo! Que tipo de
proteção você dá trazendo-a à toca do lobo mau?
— Não!!!— Respiro como se ela me tivesse
socado e tivesse me deixado sem ar.— Você não
pode me amar, Ana. Não... isso é errado. — Estou horrorizado,
como pode ser tão vulnerável e inocente diante deste merda que eu sou?
— Errado? Porque é errado? —Ela diz desesperada.
— Bem, olhe para você. Eu não posso fazê-la feliz. — Minha voz está angustiada.
— Mas você me faz feliz. — Ela franze
a testa.
— Não nesse momento. Não fazendo o que eu quero fazer. —Não
trazendo lágrimas e tristezas ao seu olhar, meu... meu amor! —Penso e admito o que realmente sinto, mas não consigo dizer para ela.
Covardemente me calo.
— Nós nunca conseguiremos superar isso, não é? — Ela sussurra e eu balanço a cabeça tristemente.
Ela fecha os olhos e eu sinto que meu estômago
chega perto da boca, um gosto amargo de fel se expande misturando-se à minha
saliva. Não suporto olhar para ela neste estado de tristeza.
— Bem... É melhor eu ir então... — Ela murmura e eu me sento desesperado.
— Não, não vá. — Digo em pânico.
— Não há nenhuma razão para eu ficar. — Ela demonstra cansaço.
Simplesmente se levanta sem
dizer mais uma palavra sequer e sai da cama. Eu a sigo, querendo agarrá-la e
cair de joelhos implorando para ela não me deixar. Ela se vira e diz com uma
voz serena, mas vazia.
— Eu vou me vestir. Gostaria de um pouco de privacidade. —E sai do quarto me deixando sozinho.
Minha garganta queima, o desespero
toma conta de mim, estou pagando o preço por minha depravação, por minha
incapacidade de amar, de dar e receber amor. A sigo e ouço o som do chuveiro.
Entro em meu quarto, enquanto ela toma banho me visto com a primeira roupa que
encontro, calça preta e camiseta, fico descalço para que ela não me veja no
quarto. Ela pediu privacidade e vai ter. Dirijo-me à sala, angustiado, pedindo
aos céus uma iluminação de como ter uma ideia brilhante que a impeça de ir.
O tempo passa rápido demais, tenho
dificuldade em respirar.
A porra do BlackBerry toca, é Welch.
Atendo irritado.
—Senhor Grey, temos notícias de
Leila.
—Pode falar.
—Ela entrou em contato com o
ex-marido, pedindo ajuda, mas ele a dispensou e não quis ajudar, nem mesmo quis
saber detalhes do que está acontecendo com ela, Senhor. Bem, o senhor sabe,
grampeamos os telefones dele e a última coisa que ele disse a ela foi
“dane-se”... bem... não exatamente com estas palavras Senhor.
— Ele disse o quê? — Grito. — Bem, ele poderia ter nos dito a porra da verdade. Qual é o número
dele, eu preciso ligar para ele... caralho, isso está realmente fodido. — Olho para as escadas e não tiro meus olhos taciturnos dela. — Encontre-a! — Pressiono e desligo o telefone.
Ela está pálida, com um rabo de
cavalo nos cabelos, os olhos inchados de chorar. Eu me acabo de ver seu
sofrimento causado por mim. Ela praticamente me ignora, anda até o sofá e pega sua
mochila. Tira o Mac da mochila e anda de volta em direção a cozinha,
colocando-o cuidadosamente na mesa do bar, junto com o BlackBerry e a chave do
carro. — Não, não, não! Ela está devolvendo tudo o
que dei. Ela vai realmente partir?
Observo seus movimentos com
horror. De repente ela se vira e
dispara.
— Eu preciso do dinheiro que Taylor conseguiu pelo meu fusca. — Sua voz está clara e calma, desprovida de emoção.
— Ana, eu não quero essas coisas, elas são suas. — Digo incrédulo. —Por favor, leve-as.
— Não Christian, eu as aceitei sob resignação e não as quero mais.
— Ana, seja razoável... — Tento
convencê-la desesperadamente. Minha sensação é a de que ao deixar meus
presentes ela está me tirando de sua vida por completo.
— Eu não quero nada que me lembre de você. Eu só preciso do
dinheiro que Taylor deu pelo meu carro. — Sua voz
está muito monótona.
Eu suspiro tentando me
controlar, tentado não mostrar a ferida que sangra meu coração, a chaga que
rompeu meu peito. Nunca senti uma dor assim, nem nas horas fodidas da minha
infância, doeu como dói agora. Naquelas horas eu tinha raiva e a raiva
alimentava minha esperança em mudar o jogo. Neste momento sinto culpa e medo de
mergulhar num abismo sem volta.
— Você está realmente tentando me ferir? —Conseguiu,
foi direto ao ponto Srta Steele.
— Não. — Ela franze a testa olhando para
mim. —Claro que não... Eu amo você. — Eu estou tentando me proteger. — Sussurra.
—Porque você não me quer da forma
que eu quero você.
— Por favor, Ana, leve essas coisas. —Já nem sei mais o que digo meu cérebro não
funciona mais, sucumbiu ao meu coração dilacerado.
— Christian, eu não quero brigar, eu só preciso do dinheiro.
Eu aperto os olhos, nem acredito
em sua valentia, da forma como me encara e luta. Olha impassivelmente para mim,
sem piscar ou recuar.
— Você vai levar um cheque? — Digo
acidamente.
— Sim. Eu acho que está bom.
Volto ao escritório, interfono
para Taylor pedindo para vir imediatamente acompanhá-la até sua residência. Em
seguida pego o talão de cheques, preencho um com sei lá, talvez o quádruplo do
valor conseguido naquela lata velha. Caminho relutante de volta à sala e
entrego a ela. Parece que estou no corredor da morte.
— Taylor pagou um bom preço. É um carro clássico. Você pode
perguntar para ele. Ele levará você para casa. —Aceno
na direção sobre seu ombro, Taylor já está a postos para levá-la. Ela se vira e
o avista.
— Está tudo bem, eu posso ir sozinha para casa, obrigada.
Fico furioso com sua teimosia.
— Você vai me desafiar a cada momento? —Questiono magoado.
— Porque mudar um hábito de uma vida? — Se desculpa com um pequeno encolher de ombros.
Fecho os olhos com frustração e
passo a mão pelo cabelo. Ela está me atacando e tem toda razão.
— Por favor, Ana, deixe Taylor levar você para casa. —O pensamento de Leila a encontrando
me apavora.
— Eu vou pegar o carro, Senhorita Steele. — Taylor anuncia. Aceno para ele que sai rapidamente antes que ela
argumente. Ela se vira, mas não o
encontra. Então se volta para mim novamente, exalando tristeza e ao mesmo tempo
certeza do que está fazendo. Nós estamos a quatro metros de distância. Dou um
passo para frente e instintivamente ela dá um passo para trás. Paro. A angústia
e o desespero se apoderam de minhas forças.
— Eu não quero que você vá. —Murmuro com
a voz cheia de saudade.
— Eu não posso ficar. Eu sei o que quero e você não pode me dar
isso. Também sei que não posso dar a você o que você precisa.
Dou outro passo à frente,
querendo correr e agarrá-la para que não fuja da minha vida. Ela levanta as mãos.
— Não, por favor. — E recua. —De jeito nenhum eu posso tolerar seu toque agora, me mataria.
— Eu não posso suportar isso. —Imploro.
Ela agarra sua mala e a mochila,
se dirige para o corredor de entrada. Eu a sigo, mantendo uma distância
cautelosa. Pressiono o botão do elevador e a porta abre. Ela entra.
— Adeus, Christian... — Ela
murmura.
— Ana, adeus... — Digo com o único fio de voz que
arranco das entranhas.
As portas do elevador se fecham
como se fechassem o meu mundo. Vou para o escritório e atiro tudo o que está na
mesa ao chão. Tenho vontade de quebrar tudo, mas não posso ficar parado
esperando. Subo ao meu quarto em busca de um banho que me dê forças para
começar a agir, tentar corrigir esta merda que eu fiz. Para minha surpresa
encontro um pacote em minha cama. Antes leio o bilhete escrito num pequeno
pedaço de papel:
Lembrança de um tempo feliz.
Obrigada.
Ana
Abro o pacote e nele encontro um
kit de modelagem de Blahnik L23 planador, algo para construir. As lembranças
deste dia e de seu sorriso invadem minha mente e eu não me controlo, caio de
joelhos no chão, agarrado aos meus cabelos e me entrego a um choro profundo,
que me sacode convulsivamente. Desmorono no chão como um náufrago que a maré
abandonou. Meu castelo ruiu, meu mundo desmoronou, meus sonhos foram roubados. As
lágrimas descem como cascatas em meu rosto e parecem lavar a dor que me
dilacera, mas não são suficientes para aplacar o vazio que toma conta do meu
peito. Fico um longo tempo chorando como menino, como criança que não tem
vergonha de demonstrar suas fraquezas e emoções. Eu simplesmente me permito
chorar. As palavras de Flyn, invadem minhas lembranças:
Amor
é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
E eu, este bastardo, condenado a ser um eterno miserável
desta jornada chamada vida, sequer tive a coragem de dizer a ela o que descobri
já faz tempo e não admitia a mim mesmo. Eu não tive a coragem de dizer o que
ela tanto merecia ouvir:
—Eu te amo Anastasia Steele.
************
Fico um bom tempo largado no
chão, pensando, refletindo e lembrando-me daquela maldita porta de elevador que
se fechou. A dor não me abandona. Sigo para a cozinha e Gail me dá um bom dia
para o qual não encontra resposta. Pelo o litro de conhaque e bebo no gargalo.
Foda-se esta minha mania de querer ser bom moço na vida social e uma peste com
as mulheres. Penso em Leila fodida e abandonada pelas ruas. Penso em Anastasia
frustrada e magoada com minhas atitudes. Tudo fruto da minha vida intempestiva,
dos meus 50 tons de cinza...
Levo o litro de conhaque e Gail
me encara assustada. Subo direto para o quarto de jogos e lá encontro a cama
desarrumada, as coisas ainda não guardadas devido a nossa noite de amor. Estava
tudo tão perfeito e eu com esta mania idiota de estragar tudo, simplesmente
estraguei. Dou várias goladas no conhaque quente.
—Argh, está horrível, amargo
como minha vida.
Olho para o maldito cinto, causa
da minha tragédia, autor da minha ruína e não me acovardo. Coloco “Carmina Burana” em alto e bom som. Até o
primeiro andar do Escala deve estar ouvindo meu momento insanidade. Arranco
minha camisa e olho no espelho minhas miseráveis marcas de queimaduras de
cigarro. Estas miseráveis filhas da puta me marcaram e me impediram de gozar do
toque da minha amada. Mas elas estão aí, marcas da minha degeneração, da minha
vida bastarda e fodida.
Olho para banco, onde puni e
castiguei minha amada. Debruço-me sobre ele depois de mais um longo gole de
conhaque. A música me anima e me dá coragem para fazer o que preciso: exorcizar
meus demônios.
Pego o chicote e, sem dó, começo
a me açoitar. Desfiro duros golpes nas minhas costas. Sinto o mesmo ardor que
provoquei na pele de Anastasia. A música ecoa pelo quarto de jogos e eu vou
contando cada chibatada. De repente, perco a contagem. Minha alucinação é
tamanha que já nem conto mais. Sinto somente o couro duro rasgar minha pela, o açoite
que me pune ao mesmo tempo me redime dos tantos pecados cometidos. As lágrimas
teimam em cair, em lavar meu rosto, mas não me incomodam mais. Elas anuviam meu
olhar e eu sequer quero enxergar algo à minha frente. Se ela se foi, que graça tem meu viver? De
agora para... nunca mais?
Perco o juízo, perco a noção do
que estou fazendo. De repente, mergulho num mar de mansidão, sem sentidos, mas
finalmente encontro um pouco de tranquilidade... Ouço vozes ao fundo, ao longe,
muito longe. De repente a música para, passos ansiosos correm de um lado para o
outro. Mãos fortes me retiram do banco de couro e deitam-me no chão com cuidado.
Reconheço ao longe Taylor que bate em meu rosto tentando me despertar.
—Senhor Grey, fale conosco.
Senhor Grey, por favor, reaja.
Ouço uma voz familiar, é Gail,
mas não consigo reagir. Não consigo e não quero despertar, não quero reagir.
—Olha isso, Taylor. Ele tomou
quase que o litro de conhaque em jejum. Ele não está acostumado a beber. E estas
marcas, meu Deus...
De repente, uma voz firme e
conhecida me dá ordem e o rosto familiar se debruça sobre mim.
—O que você fez, My Boy? Calma! Estou aqui para te resgatar,
meu querido...
***************************************Fim *********************************
Agradeço a todos que acompanharam esta aventura até aqui. Assim acaba o livro 1. Espero vocês agora em minha própria história, ambientada no Brasil, num voo original .
Espero vocês em "Ah, mar!"- Uma história, três versões ...
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