5 de mai. de 2013

Capítulo 11- Acordo e ostras




Chego ao hotel e vou direto para a suíte, dispensando Taylor assim que o vejo. Meu humor está péssimo.
Não gosto deste tipo de emoção: perda.
Odeio este tipo de comportamento: lágrimas.
Abomino estar inserido neste emaranhado de dúvidas e incertezas.
Começo a ficar irritado com Anastasia. O que me parecia tão simples num primeiro momento, transformou-se num punhado de estratégias e surpresas ora muito agradáveis, ora ... terríveis.
Eu quero esta mulher. Nenhuma me deu tanto trabalho em tão pouco tempo. E nenhuma mais me dará trabalho e frustrações depois dela. Assim que acabar o nosso contrato, com certeza a forma de dispensá-la será mais fácil que convencê-la. É isto. Chega de tantos rodeios. Vou enviar um novo e-mail para forçá-la a uma decisão. Eu não suporto ouvir a palavra não, dela então...
Digito rapidamente e aperto em “enviar”. Amanhã ela me responderá, espero.
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De: Christian Grey
23 de maio de 2011 23:16
Para: Anastasia Steele
Assunto: Esta noite
Srta. Steele:
Espero impaciente por suas observações sobre o contrato.
Enquanto isso, que durma bem, Baby.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Invisto num bom banho, afinal estou precisando depois deste dia e deste sexo todo. Assim que começo a assistir um pouco das notícias pela televisão, o alerta de e-mail atrai minha atenção. Para minha surpresa, é um longo e-mail de Anastasia.


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De: Anastasia Steele
24 de maio de 2011 00:02
Para: Christian Grey
Assunto: Objeções
Querido Senhor Grey
Aqui está minha lista de objeções. Espero que na quarta-feira possamos discutir com calma, durante o nosso jantar.
Os números remetem às cláusulas:
2: Não tenho certeza que seja exclusivamente em MEU benefício, quer dizer, para que explore minha sensualidade e meus limites. Estou segura de que para isso, não necessitaria um contrato de dez páginas. Certamente é para SEU benefício.
4: Como sabe, só pratiquei sexo com você. Não tomo drogas e nunca fiz uma transfusão. Certamente estou mais que sã. E sobre você?
8: Posso rescindir o contrato a qualquer momento, se acreditar que não está cumprindo os limites acordados. Ok, isso me parece muito bem.
9: Devo obedecer você em tudo? Aceitar sua disciplina sem duvidar? Temos que conversar sobre isso.
11: Período de prova de um mês, não de três.
12: Não posso me comprometer todos os fins de semana. Tenho vida própria, e seguirei tendo. Possivelmente três de cada quatro?
15.2: Utilizar meu corpo da maneira que considere oportuna, no sexo ou em qualquer outro âmbito... Por favor, defina "em qualquer outro âmbito".
15.5: Toda a cláusula sobre a disciplina em geral. Não estou segura de que queira ser açoitada, surrada ou castigada fisicamente. Estou segura de que isto infringe as cláusulas 2-5. E além disso "por qualquer outra razão" é simplesmente mesquinho... e me disse que não era um sádico.
15.10: Como se me emprestar a alguém pudesse ser uma opção. Mas me alegro de que o deixe bem claro.
15.14: Sobre as normas, comento mais adiante.
15.19: Que problema há em que me toque sem sua permissão? Em qualquer caso, sabe que não o faço.
15.21: Disciplina: veja-se acima cláusula 15.5.
15.22: Não posso te olhar nos olhos? Por quê?
15.24: Por que não posso tocar em você?
Normas:
Dormir: aceitarei seis horas.
Comida: não vou comer o que puser em uma lista. Ou a lista dos mantimentos se elimina, ou rompo o contrato.
Roupa: de acordo, contanto que só tenha que vestir a sua roupa quando estou com você... Ok.
Exercício: tínhamos ficado em três horas, mas segue pondo quatro.
Limites suaves:
Temos que passar por tudo isto? Não quero fisting de nenhum tipo. O que é a suspensão? Pinças genitais... deve estar de brincadeira.
Poderia me dizer quais são seus planos para quarta-feira? Eu trabalho até às cinco da tarde.
Boa noite.
Ana
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— Muito bem Srta Steele, analisou a fundo o contrato. Que bom, pelo menos está demonstrando interesse. Respondo rapidamente.
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De: Christian Grey
24 de maio de 2011 00:07
Para: Anastasia Steele
Assunto: Objeções
Srta Steele:
É uma lista muito longa. Por que ainda está acordada?
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Eu aqui, imaginando que estivesse repousando depois do belo trato que lhe dei...
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De: Anastasia Steele
24 de maio de 2011 00:10
Para: Christian Grey
Assunto: Queimando o óleo da meia-noite
Senhor:
Se não recordar mal, estava com esta lista quando sua obsessão por controle me interrompeu e me levou para a cama.
Boa noite.
Ana
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Ah, Srta Teimosia, vamos resolver este problema já. Tome algumas maiúsculas gritantes e vê se me entende de uma vez por todas.
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De: Christian Grey
24 de maio de 2011 00:12
Para: Anastasia Steele
Assunto: Pare de queimar o óleo da meia-noite
ANASTASIA,VÁ PARA CAMA.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Espero alguns momentos e ele não responde. Isso mesmo, garota obediente, este é o caminho que mais aprecio. Nunca tive tanto trabalho para estabelecer uma relação D/s, mas entendo o porquê dela estar relutante, indecisa. Tudo por conta de sua inexperiência. Mas ela tem muito potencial, disto não tenho dúvida.
Em outros tempos ligaria para Elena agora mesmo, mas estou em débito com ela, precisamos conversar pessoalmente.
— A Senhora Robinson” não me esqueço da voz de Anastasia pronunciando isto, foi muito engraçado. Ela vai aprender com o tempo que devo respeito à Elena, minha mentora. Entendo que para os praticantes de sexo baunilha seja estranha esta relação, mas no mundo dos Dominadores e submissos como eu, Elena representa a mentora. Aquela que me iniciou, que me treinou, muito bem, aliás. Ela é minha conselheira, em quem posso confiar plenamente, tanto para a parte técnica quanto para a parte conceitual deste universo. Com o tempo Anastasia há de entender e me respeitar como seu mentor.
Volto ao telejornal, mas não consigo me concentrar. Releio o e-mail e resolvo responder. Amanhã ela lerá com mais calma.
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De: Christian Grey
24 de maio de 2011 01:27
Para: Anastasia Steele
Assunto: Suas objeções
Querida Srta. Steele:
Depois de revisar com mais detalhes suas objeções, permita-me lhe recordar a definição de submisso.
Submisso - adjetivo
1.inclinado ou disposto a submeter-se; que obedece humildemente: servente submisso.
2. que indica submissão: uma resposta submissa.
Origem: 1580-1590; submeter-se, submissão
Sinônimos:
1. obediente, complacente, humilde.
2. passivo, resignado, paciente, dócil, contido.
Antônimos:
1. rebelde, desobediente.
Por favor, tenha isso em mente quando nos reunirmos na quarta-feira.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Pronto, missão cumprida. Ela tem que parar de me confrontar e desafiar. —Vamos Grey, hora de dormir!
Apago a luz e, antes de cair num sono reaparador, ouço a voz de Simon e Garfunkel, cantando lá ao fundo da minha memória a música “Mrs. Robinson”. Relembro algumas cenas do filme “A Primeira Noite de um Homem”.
Anastasia me surpreende com sua inteligência. Então imagino que Elena é Anne Bancroft. Mas eu não tenho nada de Dustin Hoffman. Ah, talvez tenha sim na busca da perfeição no trabalho. E Anastasia seria Katharine Ross? Que analogia mais interessante.
O que não posso esquecer é que, apesar da sedução feita no filme, o casal que fica junto é Elaine e Benjamim... Quem sabe eu consiga convencer Anastasia a ficar comigo o tempo necessário... E envolto nestes pensamentos, continuo com Simon e Grafunkel...
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Chego ao hotel depois de um longo dia de trabalho, em que estive na WSUV pela manhã. Visitei o campus, analisei se minhas doações estão sendo bem empregadas, discuti as prerrogativas do projeto para a erradicação da fome. Tratei da minha participação na formatura.
Depois do almoço finalizei os detalhes da compra que eu e Ros iniciamos no dia anterior, com toda a burocracia necessária numa compra segura.
Passei o dia checando os e-mails, mas nada... Preparo uma taça de vinho branco, e meia hora depois ouço o som que mais espero reconhecer nestes últimos dias: o alerta de e-mail.
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De: Anastasia Steele
24 de maio de 2011 18:29
Para: Christian Grey
Assunto: Minhas objeções... O que acontece com as suas?
Senhor:
Rogo-lhe que observe a data de origem: 1580-1590. Queria recordar ao senhor, com todo respeito, que estamos em 2011. Percorremos um longo caminho desde então.
Permita-me lhe oferecer uma definição para que a tenha em conta em nossa reunião:
Compromisso: essencial
1. Chegar a um entendimento mediante concessões mútuas; alcançar um acordo ajustando exigências ou princípios em conflito ou oposição mediante a recíproca modificação das demandas.
2. O resultado de certo acordo.
3. Algo intermediário entre duas coisas diferentes. A divisão de nível é um compromisso entre uma casa de fazenda e uma de muitos andares.
4. Um comprometimento, especialmente da reputação; expor em perigo, suspeita, etc.: comprometer a integridade de alguém.
Ana
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Compromisso! Esta palavra me assusta e afugenta nos relacionamentos íntimos.—Hã, melhor convencê-la pessoalmente!
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De: Christian Grey
24 de maio de 2011 18:32
Para: Anastasia Steele
Assunto: O que acontece com minhas objeções?
Bem entendido, como sempre, Srta. Steele. Passarei para pegá-la em sua casa às sete em ponto.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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De: Anastasia Steele
24 de maio de 2011 18:40
Para: Christian Grey
Assunto: 2011 - As mulheres sabem dirigir
Senhor,
Tenho carro e sei dirigir.
Preferiria que nos encontrássemos em outro lugar.
Onde nos encontramos?
Em seu hotel às sete?
Ana
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Ah, não! Qual parte exatamente ela não está entendendo? Seria a que eu mando e ela obedece? É melhor conversar pessoalmente.
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De: Christian Grey
24 de maio de 2011 18:43
Para: Anastasia Steele
Assunto: Jovenzinha teimosa
Querida senhorita Steele:
Remeto ao meu e-mail de 24 de maio de 2011, enviado a 01:27, e à definição que contém.
Acredita que será capaz de fazer o que lhe diga?
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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De: Anastasia Steele
24 de maio de 2011 18:49
Para: Christian Grey
Assunto: Homem intratável
Senhor Grey,
Eu prefiro dirigir.
Por favor.
Ana
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Quanta teimosia para uma pessoa só! Melhor concordar neste momento para que ela não desista do encontro. —Ah, Anastasia Steele, minha mão está coçando e eu as enxergo colorindo sua bunda magistral de rosa escarlate. Será que existe esta cor?
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De: Christian Grey
24 de maio de 2011 18:52
Para: Anastasia Steele
Assunto: Homem exasperado
Muito bem.
Em meu hotel às sete.
Vemo-nos no Marble Bar.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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De: Anastasia Steele
24 de maio de 2011 18:55
Para: Christian Grey
Assunto: Homem não tão intratável
Obrigada.
Ana
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De: Christian Grey
24 de maio de 2011 18:59
Para: Anastasia Steele
Assunto: Mulher exasperante
De nada.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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—Vem tratar deste homem aqui vem, eu trato de você também Srta Steele!
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São sete e cinco. Estou inclinado sobre o balcão, bebendo um copo de vinho branco, não gosto de atrasos, mas também não suporto a desconfiança de que ela não virá.
Checo novamente no relógio: sete e dez. —Que porra! Ela não vem. Ah, Srta Steele, vai me pagar por deixar tão nervoooo...


Olho para a entrada do bar e perco até a voz da minha consciência. —Puta que pariu! Ela está parada na porta e eu pestanejo algumas vezes para ter certeza do que vejo. Os cabelos caem numa perfeita cascata castanha sobre seus seios apetitosos. Apenas algumas leves mechas onduladas emolduram seu rosto. Veste um vestido cor de ameixa combinando com sapatos luxuosos de saltos altíssimos da mesma cor. —Uau Grey, esta produção é para você, garoto!
Ela avança em minha direção com passos lentos, num bailado sexy e eu sorrio com luxúria. Ela não imagina o quanto eu curto um salto alto, nem o que sou capaz de fazer com uma mulher usando somente um par desses e mais nada. Caminho em sua direção, louco pela presa que veio direto para minha armadilha.
— Você está linda, — murmuro, inclinando-me para me beijá-la rapidamente na bochecha. — Lindo vestido, Srta. Steele. Parece-me muito bem. — Agarro sua mão e a levo para uma mesa reservada já fazendo o gesto para chamar o garçom.
— O que quer tomar, Anastasia?
Ela esboça um ligeiro sorriso enquanto senta-se à mesa. Percebo que seus lindos olhos azuis estão ainda mais belos, destacados por algumas camadas de rímel. Os lábios estão ainda mais apetitosos por causa do gloss. Aprecio mulheres bem maquiadas e ela soube como fazer isso com leveza, apenas destacando ainda mais sua beleza natural.
— Tomarei o mesmo que você, obrigada. — E eu tomarei infinitas doses de você, Srta Abre o Apetite!
Divertido, peço outro copo do Sancerre e me sento em frente a ela.
— Tem uma adega excelente aqui. — digo, inclinando a cabeça para um lado a fim de observá-la melhor. Apoio os cotovelos na mesa e junto os dedos de ambas as mãos à altura da boca. Em meus olhos sei que brilham a incompreensível emoção que sinto neste momento. O prazer de revê-la é indecifrável. Sinto novamente a descarga elétrica que nos conecta e não se explica. É delicioso estarmos juntos.
Ela se remexe, incômoda diante de meu olhar escrutinador. —Sim, vamos brincar de olhares vorazes, Anastasia. Sou seu predador e você minha presa favorita.
—Está nervosa? — Pergunto amavelmente.
— Sim.
Eu me inclino para frente com o coração batendo a mil megawatts.
— Eu também, — sussurro em cumplicidade. Ela mantém seus olhos nos meus, num olhar intenso e sexy. —Hum, entendeu e aceitou o joguinho proposto! Esse olhar faz linha direta com meu pau endurecido sob a mesa.
Chega o garçom com o vinho, um pratinho com frutas secas e outro com azeitonas.
— Então, como faremos isso? — Ela pergunta. — Revisamos meus pontos um a um?
— Sempre tão impaciente Srta Steele.
— Bem, eu poderia perguntar o que você achou do tempo hoje?
Sorrio, ela está me desafiando novamente. Pego uma azeitona e coloco na boca muito lentamente. Ela paira o olhar na minha boca e ruboriza. —Usando seu tempo imaginando o que posso fazer com esta boca, Srta Steele?
— Acredito que o tempo hoje não teve nada de especial — dou lhe um amplo sorriso.
— Está rindo de mim, Sr. Grey?
— Sim, Srta. Steele.
— Sabia que esse contrato não tem nenhum valor legal?
— Sou perfeitamente consciente disso, Srta. Steele.
— Pensou em me dizer isso, em algum momento?
Franzo o cenho. Não gosto que ela desconfie de mim
— Você acredita que estou te coagindo para que faça algo que não quer fazer, e que além disso pretendo ter algum direito legal sobre você?
— Bem... sim.
— Não tem um bom conceito de mim, não é verdade?
— Não respondeu a minha pergunta.
—Anastasia, não importa se é legal ou não. É um acordo que eu gostaria de ter contigo... o que eu gostaria de ter de você e o que você pode esperar de mim. Se você não gostar, não assine. Se o assinar e depois decidir que você não gosta, há suficientes cláusulas que lhe permitirão deixá-lo. Mesmo se você for legalmente vinculada, acredita que levaria você a julgamento se decidisse partir?
Ela percebe que estou desapontado com sua desconfiança e toma um bom gole de vinho. Ainda não entendeu que esta prática é comum entre o D/s- Dominador e submissa. É uma forma de proteger a ambos.
— As relações deste tipo se apoiam na sinceridade e na confiança — explico. — Se não confiar em mim... tem que confiar em mim para que saiba em que medida estou te afetando, até onde posso ir contigo, até onde posso te levar... se não puder ser sincera comigo, então, realmente, não podemos fazer isso.
Ela continua me ouvindo atentamente.
— É muito simples, Anastasia. Confia em mim ou não? — Pergunto com veemência.
— Você manteve este tipo de conversa com... bem, com as quinze?
— Não.
— Por que não?
— Porque elas já eram submissas. Sabiam o que queriam da relação comigo, e em geral, o que eu esperava. Com isso, era uma simples questão de afinar os limites possíveis, esses tipos de detalhes.
— Você as procura em alguma loja? Nós somos Submissas?
Que pergunta hilária. Não contenho um riso sincero.
— Não exatamente.
— Então como?
— É disso que quer falar? Ou passamos ao melhor da questão? Às objeções, como você diz.
Ela nem imagina o tanto de mulheres que se divertem e são felizes com esta prática. Também não imagina que foi a sua conduta em minha sala que me fez enxergar sua possível adequação a este mundo. —Será que tirou zero nesta avaliação, Grey?
Engole em seco e apenas me encara pensativa. Dou um jeito de mudar o rumo da conversa.
— Você está com fome? — pergunto, para distraí-la de seus pensamentos.
— Não.
— Você comeu hoje?
— Não. — responde em voz baixa.
Eu a olho seriamente. Não gosto de sua relação com a comida, isto me preocupa. Ela pode adoecer por causa da má alimentação.
— Tem que comer, Anastasia. Podemos jantar aqui ou em minha suíte. O que você prefere? —Diga sim, você come, depois eu te como também!
— Acredito que é melhor ficamos em terreno neutro.
Eu sorrio com ar zombador.
— Acredita que isso me deteria? — pergunto em voz baixa, como uma sensual advertência.
Ela arregala os olhos e volta a engolir em seco.
— Eu espero que sim!
— Vamos, reservei um jantar privado. —Saio da mesa estendendo-lhe a mão me divertindo com seu medo.
— Traga o seu vinho — murmuro.
Dou o braço para ela, cruzamos o bar e subimos uma grande escada até a sobreloja. Um rapaz com uniforme do Heathman se aproxima de nós.
— Senhor Grey, por aqui, por favor.
Nós o seguimos por uma luxuosa sala de sofás, até um refeitório privado, com uma só mesa. É pequeno, mas suntuoso. Sob um candelabro cintilante, a mesa está coberta por linho engomado, taças de cristal, talheres de prata e um ramo com uma rosa branca. Um encanto antigo e sofisticado impregna a sala, forrada com painéis de madeira. O garçom retira a cadeira e ela senta colocando imediatamente o guardanapo no colo. Coloco as taças na mesa e me sento em frente a ela que fica olhando para mim.
— Não morda o lábio — sussurro.
Ela franze o cenho e fica lindamente tímida novamente.
— Já pedi a comida. Espero que não se importe.
— Não, está tudo bem. — ela responde.
— Eu gosto de saber que pode ser dócil. Agora, onde estávamos?
— No x da questão. — Dá outro longo gole de vinho e seus pensamentos a fazem ruborizar.
— Sim, suas objeções. — Retiro do bolso o e-mail que imprimi.
— Cláusula 2. De acordo. É em benefício dos dois. Voltarei a redigi-lo.
Ela pestaneja, mas me escuta com atenção.
— Minha saúde sexual. Bem, todas as minhas companheiras anteriores fizeram análise de sangue, e eu faço exames a cada seis meses, de todos estes riscos que existam. Meus últimos exames estavam perfeitos. Nunca usei drogas. Na realidade, sou totalmente contra as drogas, e minha empresa leva uma política antidrogas muito a sério. Insisto em que se façam exames aleatórios e de surpresa nos meus empregados para detectar qualquer possível consumo de drogas.
Ela me encara perplexa com minhas revelações. —Sim, Srta Steele, minha obsessão por controle é assim.
— Nunca fiz uma transfusão. Isso responde a sua pergunta?
Concorda, impassível.
— Seu ponto seguinte eu já comentei antes. Você pode sair a qualquer momento, Anastasia. Não vou te deter. Mas se for... acaba tudo. Quero que saiba.
— Ok. — ela responde em voz baixa.
O garçom chega com o primeiro prato.
— Espero que você goste das ostras — Digo em tom amável.
— Nunca as provei. — Nunca? Às vezes me pergunto se Anastasia é mesmo deste planeta.
— Sério? Bem. Pegue uma. A única coisa que tem que fazer é colocar isso na boca e engolir. Acredito que conseguirá. — Olho para ela e percebo que entendeu claramente minha indireta. Fica vermelha como um tomate. Divirto-me, a oriento a espremer suco de limão em uma ostra e mostro como colocá-la na boca.
— Mmm, deliciosa. Tem sabor de mar. — digo sorrindo após engolir a ostra. — Vamos, tente! —a encorajo.
— Não tenho que mastigá-la?
— Não, Anastasia. — Meus olhos brilham divertidos. Ela aperta os lábios e eu a encaro com desaprovação, seriamente. Após relutar alguns minutos, estica o braço e pega a primeira ostra. Imita-me, joga suco de limão e a coloca na boca. Eu fico na espera, apreciando a reação.
Ela lambe os lábios e eu ainda estou na expectativa.
— É bom?
— Comerei outra e lhe responderei.
— Boa garota — digo orgulhoso.
— Você pediu ostras de propósito? Não dizem que são afrodisíacas?
— Não, é só o primeiro prato do menu. Não necessito de afrodisíacos com você. Acredito que saiba, e acredito que é assim contigo também. — digo pausadamente para provocá-la. — Onde estávamos? — Dou uma olhada no e-mail, enquanto ela pega outra ostra.
— Obedecer-me em tudo. Sim, quero que faça. Necessito que o faça. Considera um papel difícil, Anastasia?
— Fico preocupada que você me machuque, me faça mal.
— Te faça mal como?
—Fisicamente.
—De verdade, acredita que te faria mal? Que transpassaria os limites, ao ponto de você não poder aguentar?
— Você disse que tinha feito mal a alguém antes.
— Sim, mas foi há muito tempo.
— O que aconteceu?
— Pendurei-a no teto do quarto de jogos. De fato, é um dos seus pontos. Suspensão... para isso são os mosquetões. Com cordas. E apertei muito uma corda.
Ela levanta uma mão para que eu pare.
— Não preciso saber mais. Então, você quer me suspender?
— Não, se realmente não quiser. Pode tirar da lista dos limites rígidos.
— Ok.
— Bom, crê que poderá me obedecer?
Lanço-lhe um olhar intenso. Passam os segundos que parecem horas à espera de uma resposta.
— Poderia tentar — ela sussurra.
— Bom. — Sorrio, depois de conseguir respirar. — Novo termo. Um mês não é nada, especialmente se quiser um fim de semana livre de cada mês. Não acredito que eu possa aguentar ficar longe de você tanto tempo. Mal o consigo agora. Quero muito que isto dê certo, estar com ela me faz bem.
— Que tal, um dia de um fim de semana por mês só para você. Mas ficará comigo uma noite no meio da semana.
— De acordo.
— E, por favor, tentamos por três meses. Se você não gostar, pode partir a qualquer momento.
— Três meses? — Ela dá outro comprido gole de vinho e come outra ostra. Enquanto isto, eu continuo.
— O tema da propriedade, é meramente terminologia e remete ao princípio da obediência. É para você entrar no estado de ânimo adequado, para que entenda de onde venho. Ela me encara em silêncio.
— E quero que saiba que, assim que cruzar a porta de minha casa, você é minha por inteiro, farei contigo o que me der vontade. Terá que aceitar de boa vontade. Por isso tem que confiar em mim.
Enquanto ela me fita com seus olhos encantadores, vou me empolgando.
— Vou foder você, quando quiser, como quiser e onde quiser. Vou discipliná-la, antes que você estrague tudo. Adestrarei você para que me agrade, apesar de saber que tudo isto é novidade em sua vida.
Enquanto ela não me confronta nem desafia, continuo.
— De inicio iremos com calma e eu te ajudarei. Nós vamos atuar em vários cenários. Quero que confie em mim, mas sei que tenho que ganhar sua confiança, e o farei. O "em qualquer outro âmbito"... de novo, é para ajudar você a se colocar em uma situação. Significa que tudo está permitido.
Falo com paixão e verdade, não quero que ela entre neste acordo sem saber o que realmente espero. Ela mantém os olhos impassíveis, fixos em mim.
— Continua comigo? — pergunto em um sussurro, com voz intensa, cálida e o mais sedutora que consigo expressar. Tomo um gole de vinho sem tirar meus penetrantes olhos dela. — Entre nós, o não nunca foi uma possibilidade, Srta Olhar Intenso!
O garçom se aproxima da porta e eu aceno ligeiramente para lhe indicar que pode retirar os pratos.
— Quer mais vinho?
— Tenho que dirigir.
— Água, então?
Ela concorda.
— Normal ou com gás?
— Com gás, por favor.
O garçom parte.
— Está muito pensativa — sussurro.
— Você está muito falador.
Eu sorrio, estava demorando suas tiradas sarcásticas.
— Disciplina. A linha que separa o prazer da dor é muito fina, Anastasia. São as duas caras de uma mesma moeda. E uma não existe sem a outra. Posso lhe ensinar quão prazerosa pode ser a dor. Agora você pode não acreditar em mim, mas é a isso que me refiro quando falo de confiança. Haverá dor, mas nada que não possa suportar. Voltamos para o tema da confiança. Confia em mim, Ana? —Quem disse Ana, eu? De onde veio esta voz que trai minha autonomia?
— Sim, confio em você — responde espontaneamente.
— De acordo. — digo aliviado. — O resto, são apenas detalhes.
— Detalhes importantes.
— Ok, vamos falar sobre eles.
O garçom volta a aparecer com o segundo prato: bacalhau, aspargos e purê de batatas com molho holandês.
— Espero que você goste de pescado. — digo em tom amável.
Ela olha para a comida e bebe um longo gole de água com gás.
— A normas. Falemos das normas. Rompe o contrato pela comida?
— Sim.
— Posso mudar e dizer que comerá no mínimo três vezes ao dia?
— Não. Eu não vou ceder neste tema.
Eu aperto os lábios em reprovação.
— Preciso saber que não passa fome.
— Tem que confiar em mim.
Eu a olho por um instante e relaxo.
— Touché, Srta Steele — digo em tom tranquilo. Aceito o da comida e o de dormir.
— Por que não posso te olhar?
— Isso é uma coisa comum entre Dominante e submissa. Faz parte deste universo. Você vai se acostumar com isso.
— Por que não posso te tocar?
— Porque não. —Aperto os lábios, não quero tocar neste assunto.
— Isso é por causa da Senhora Robinson?
Eu a olho com curiosidade. Ela tem um conceito muito errado sobre Elena
— Por que você pensa isso? — E imediatamente a entendo. — Você acredita que ela me traumatizou?
Ela concorda.
— Não Anastasia, não é por isso. Além disso, a Senhora Robinson não tomaria qualquer dessas merdas de mim.
— Então não tem nada que ver com isso...
— Não. E tampouco quero que se toque.
— Só por curiosidade... por quê?
— Porque quero todo o seu prazer para mim — digo em tom rouco, mas determinado.
Ela franze o cenho e pega um pedaço de bacalhau.
— Terá muitas coisas para pensar, não é verdade?
— Sim.
— Quer que passemos já aos limites suaves?
— Não, depois de comer.
Eu sorrio.
— É difícil?
— Mais ou menos.
— Você não comeu muito.
— Comi o suficiente.
— Três ostras, quatro pedacinhos de bacalhau e um aspargo. Nem purê de batatas, nem frutas secas, nem azeitonas. E não comeu o dia todo. Você me disse que podia confiar.
— Christian, por favor, não estou acostumada a ter conversas deste tipo todos os dias.
— Preciso que esteja sadia e em forma, Anastasia.
— Eu sei.
— E agora mesmo quero tirar esse vestido de seu corpo.
Ela engole a saliva. Volto a utilizar contra ela minha arma mais potente. É fabuloso nosso sexo... Estabelecer uma dependência neste sentido fortalecerá ainda mais sua entrega e rendição.
— Não acredito que seja uma boa ideia — ela murmura. — Ainda não comemos a sobremesa.
— Quer sobremesa? — pergunto baixinho.
— Sim.
— A sobremesa poderia ser você — murmuro sugestivamente.
— Não estou segura de que seja bastante doce.
— Anastasia, você é deliciosamente doce. Eu sei.
— Christian, você utiliza o sexo como arma. Não me parece justo. — ela sussurra olhando para as mãos, e logo me encara nos olhos. Levanto as sobrancelhas, surpreso, e vejo que esta pesando minhas palavras. Seguro o queixo, pensativo. —Será que ela leu meus pensamentos?
— Tem razão. Faço isso. Na vida, cada um utiliza o que sabe, Anastasia. Isso não muda o fato que eu deseje muitíssimo você. Aqui. Agora. Faço a voz mais sedutora que consigo e percebo que atinjo o alvo: ela está ofegante.
— Eu gostaria de tentar algo — falo calmamente.
Ela franze o cenho a espera da proposta
— Se você fosse minha sub, não teria que pensar sobre isso. Seria fácil. — Minha voz é doce e sedutora. — Todas estas decisões... todo o desgastante processo de pensamento por trás delas. Coisas como, “Esta é a coisa certa a fazer?”, "Isso poderia acontecer aqui?", "Poderia acontecer agora?". Não teria que se preocupar com esses detalhes. Seria eu, como seu Dom. E agora mesmo, eu sei que me deseja, Anastasia.
Franze o cenho ainda mais e se contorce na cadeira.
— Estou tão seguro porque...— passo os dedos pela borda da taça de vinho— ...seu corpo a delata. Está apertando as coxas, está mais vermelha e sua respiração mudou.
— Como sabe sobre minhas coxas? — pergunta em voz baixa, em tom incrédulo. —Elas estão sob a mesa, pelo amor de Deus.
— Eu notei que a toalha se movia e deduzi, me apoiando em anos de experiência. Estou certo, não é?
Ela ruboriza ainda mais e encara suas mãos. Meu jogo de sedução tem grande efeito sobre ela.
— Não terminei o bacalhau.
— Prefere o bacalhau frio a mim? —Neste momento estou com uma necessidade imperiosa dela, de começar meu treinamento imediatamente.
Ela levanta a cabeça de repente, e me encara.
— Pensei que você gostaria que comesse toda a comida do prato.
— Neste momento, Srta Steele, importa-me uma merda sua comida.
— Christian, você não joga limpo, de verdade.
— Eu sei. Nunca joguei limpo.
Ela espeta um aspargo, me encara e morde o lábio. Logo, muito devagar, coloca a ponta do aspargo na boca e o chupa. Não acredito na coragem dela em fazer isso. Automaticamente uma chama se acende e meu pau endurece novamente.
— Anastasia, o que está fazendo?
Morde a ponta lentamente.
— Estou comendo um aspargo.
Este gesto tem um efeito enlouquecedor sobre mim ao ponto de me fazer remexer na cadeira.
— Acredito que está jogando comigo, Srta Steele.
Ela finge inocência, não entender o que eu digo.
— Só estou terminando a comida, Sr. Grey.
Nesse preciso momento o garçom bate na porta e entra sem esperar resposta. A chegada do garçom quebrou o feitiço. Me apego a esse instante de lucidez, mesmo ficando frustrado e com raiva. —Idiota, porque entrou exatamente agora?
— Quer sobremesa? — pergunto com os olhos ainda ardentes.
— Não, obrigado. Tenho que ir— diz olhando para as mãos.
— Já vai ? — pergunto sem poder ocultar surpresa.
O garçom sai às pressas.
— Sim.
Levanta com determinação.
— Amanhã nos vemos as duas na cerimônia de graduação.
Levanto-me automaticamente, manifestando anos de arraigada urbanidade.
— Não quero que vá.
— Por favor... Tenho que ir.
— Por quê?
— Porque você me expôs muitas coisas, nas quais devo pensar... e preciso de uma certa distância.
— Poderia fazer você ficar. — ameaço.
— Sim, não seria difícil, mas não quero que faça.
Passo a mão pelos cabelos, a olhando atentamente.
— Olha, quando veio para minha entrevista e entrou em meu escritório, tudo era "Sim, senhor", "Não, senhor". Pensei que fosse uma submissa nata. Mas, na verdade, Anastasia, não estou seguro de que seja totalmente submissa. — digo em tom tenso, me aproximando dela.
— Talvez você tenha razão. — ela responde.
— Quero ter a oportunidade de descobrir se é. —murmuro, enquanto a olho ardentemente. Levanto um braço, acaricio seu rosto e passo o polegar pelo seu lábio inferior. —Não sei fazer de outra maneira, Anastasia. Sou assim.
— Eu sei.
Inclino-me para beijá-la, mas paro antes de meus lábios tocarem os seus. Meus olhos procuram os dela, como lhe pedindo permissão. Ela eleva os lábios para mim e a beijo vorazmente, ela corresponde. Suas mãos se movem, deslizam por meu cabelo, atraindo-me para ela. Sua boca se abre e minha língua acaricia a dela. Eu a pego pela nuca para lhe beijar mais profundamente, respondendo ao seu ardor. Deslizo a outra mão pelas suas costas, e ao chegar ao final da coluna, paro e a aperto contra meu corpo.
— Não posso te convencer a ficar? — pergunto sem deixar de lhe beijar.
— Não.
— Passe a noite comigo.
— Sem tocar em você? Não.
Eu gemo de surpresa e de tesão.
— Você é impossível, garota. — Queixo-me. Levanto a cabeça e a olho fixamente. —Por que tenho a impressão de que está se despedindo de mim?
— Porque eu tenho que ir, agora.
— Não é isso o que quero dizer, e você sabe.
— Christian, eu tenho que pensar em tudo isto. Não sei se posso manter o tipo de relação que você quer.
Eu fecho os olhos e pressiono a cabeça contra a dela, dando a ambos a oportunidade de relaxar ou respirar. Um momento depois a beijo na testa, respiro fundo, com o nariz afundado em seu cabelo, sorvendo seu aroma espetacular que me aquece e conforta. Solto-a e dou um passo atrás.
— Como quiser, Srta. Steele. — digo com rosto impassível, escondendo o desespero que me assola. —Acompanho você até o vestíbulo.
Ela estende a mão, pega a bolsa e me dá a outra mão. Seguimos de mãos dadas pela grande escada até o vestíbulo. Sinto coceira no couro cabeludo e meu sangue bombeia depressa. Pode ser um adeus se ela não aceitar e um desconforto dilacerante se apodera de mim.
— Tem o ticket do estacionamento?
Ela pega o ticket na bolsa e me entrega para que eu passe ao manobrista. Encara-me enquanto esperamos.
— Obrigada pelo jantar. — murmura.
— Foi um prazer como sempre, Srta Steele. — respondo educadamente, mas na verdade meus pensamentos não são nada educados. Esta insegurança me deixa desconfortável. Estou vivendo a dualidade de querer lhe dar uma surra de cinto de couro porque está me desafiando e, ao mesmo tempo, estou com uma tremenda vontade de lhe dar uma surra de beijos suaves, me embriagando em seu sabor.
Tenho que tentar algo para convencê-la de uma vez por todas.
— Esta semana eu volto para Seattle. Se tomar a decisão correta, poderei ver você no domingo? — pergunto em tom inseguro.
— Bem, vou ver. Talvez. — Eu respiro. Momentaneamente, fico aliviado.
— Agora faz frio. Você trouxe casaco?
— Não.
Sacudo a cabeça com irritação e tiro a minha jaqueta.
— Toma. Não quero que passe frio.
Ela pisca para mim enquanto seguro a jaqueta aberta. Minha lembrança me leva de volta ao meu escritório, No dia em que nos conhecemos e que calculei que ela fosse uma submissa nata.
Chega o seu carro eu fico boquiaberto, horrorizado. —Se é que esta lata velha pode ser chamada de carro.
— Esse é seu carro? —O manobrista sai, me entrega as chaves, e lhe dou uma gorjeta. — Está em condições de circular? — pergunto a fulminando com o olhar.
— Sim.
— Chegará até Seattle?
— Claro que sim.
— Em segurança?
— Sim — responde irritada. —Veja, é velho, mas é meu e funciona. Meu padrasto comprou para mim.
— Oh, Anastasia, acredito que podemos melhorar isso.
— O que você quer dizer? Nem pense em me comprar um carro.
Eu a olho com o cenho franzido e a mandíbula tensa.
— Logo veremos. — respondo.
Faço uma careta enquanto abro a porta do condutor e a ajudo a entrar. Ela tira os sapatos e abaixa o vidro. Me olha com expressão impenetrável e olhos turvos.
— Conduza com cuidado. — digo em voz baixa.
— Adeus, Christian. — Ela diz com voz rouca, como se estivesse a ponto de chorar e sorri ligeiramente. Parte em seguida.
Eu fico ali, observando aquela lataria horrorosa se afastando com minha joia preciosa. Ainda estou atônito de ver o carro que ela possui.
Assim que adentro o hotel. Taylor me aguarda no saguão. Subimos juntos no elevador.
—Taylor, você viu aquilo? Pode ser chamado de carro?
Ele esboça um sorriso sutil.
—Se me permite Senhor, sinceramente não.
—Aquilo é uma verdadeira armadilha.
—Concordo Senhor, parece mais uma sucata.
—Anastasia tem uns comportamentos muito estranhos, esquisitos.
Taylor me olha com um olhar que diz: —Igualzinho a alguém neste elevador.
—Ela me parece apenas uma moça muito simples, Senhor.
—Simples, teimosa, inocente, desafia... Bem Taylor, não quero análises da personalidade dela agora, tenho muito que ensiná-la.
Ele apenas me ouve com sua habitual discrição.
—E então, o presente de formatura foi providenciado?
—Sim, como o Senhor ordenou.
—Ela precisa deste presente mais que as outras. Esta tudo conforme planejado?
—Tudo, Senhor. Da forma como o Senhor gosta.
—Muito bem, Taylor. Vou me recolher. Amanhã tenho um discurso a fazer e um presente para entregar.
—Boa noite, Senhor!
Adentro a suíte. Estou ansioso e preocupado com a segurança dela pilotando aquela armadilha. É inacreditável que considere que aquilo possa ser chamado de carro.
Resolvo escrever outro e-mail para ela.
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De: Christian Grey
25 de maio de 2011 22:01
Para: Anastasia Steele
Assunto: Esta noite
Não entendo por que saiu correndo esta noite. Espero sinceramente ter respondido todas as suas perguntas de forma satisfatória. Sei que tem que expor muitas coisas e espero fervorosamente que leve a sério minha proposta. Quero de verdade que isto funcione. Temos que levar com calma.
Confie em mim.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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Fico olhando a tela aguardando uma resposta e, muito tempo depois, nada.
Isto começa a me preocupar. Ela deve ter chegado bem, caso contrário Katherine já teria feito um contato comigo. Ou talvez não?
Não resito a tentação e ligo em seu celular. Chama, chama, cai na caixa postal...
Fico imaginado o que pode ter acontecido. Caminho pela suíte, olho pela janela e o movimento da rua está calmo, parado. Não ouço sirenes... Bom sinal. —Porra, Grey! Que merda é esta que você está pensando?
Já se passaram quase duas horas. Resolvo mandar uma mensagem de texto: “Você está em casa segura?”. Infindáveis minutos se passam e nada...
Mando outro e-mail:
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De: Christian Grey
Assunto: Hoje à noite
Data: 25 de maio 2011 23:58
Para: Anastasia Steele
Eu espero que você tenha chegado bem em casa naquele seu carro.
Deixe-me saber que você está bem.
Christian Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.
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O silêncio apavorante me deixa ainda mais ansioso e preocupado. Ligo novamente e ela não atende.
Estou perdido no tempo e no espaço. Já tentei tocar piano. Já tentei assistir ao telejornal. Já tentei responder e-mails da empresa. Mas minha cabeça está nela, somente nela...
Já passa de uma hora da manhã. Tento outra mensagem: “Ligue-me”. Espero mais quinze minutos. Sei que não conseguirei dormir sem ter a certeza de que ela está bem. —Vamos Grey, decida o que fazer! Pego meu BlackBerry e teclo a discagem rápida. Ele atende na primeira chamada.
—Pois não, Senhor Grey!
—Taylor, não tive notícias de Anastasia até agora. Ela não atende ao telefone. Preciso saber se ela está em casa e segura.
—Resolvo isto imediatamente, Senhor! Estou de saída para lá.
—Sim, sonde se ela chegou bem e me comunique imediatamente.
—Até breve, Senhor.
Fico aguardando o retorno de Taylor. Ele é treinado para fazer tudo com competência e discrição. Tento ligar novamente para ela e o indecifrável silêncio me devora.
Meia hora depois meu telefone toca.
—E então Taylor?
—Senhor, a Senhorita Steele chegou há muito tempo e em segurança. As luzes do apartamento já estão apagadas e o carro guardado. Mas asseguro que ela está em casa.
—Ótimo, então. Bom retorno. Até amanhã.
Respiro aliviado por saber que ela está bem, mas estou extremamente desconfiado de que ela viu meus contatos e não quis responder. Este pensamento me atordoa. Tive a impressão de que ela se despedia de mim... para sempre.
De repente, fico pensando nas coisas que já disse para ela: "Anastasia, deveria se manter afastada de mim. Não sou um homem para você." "Eu não tenho namoradas." "Não sou um homem de flores e corações." "Eu não faço amor." "Não sei fazer de outra maneira." Será que isto a assustou por conta de tamanha inexperiência? —Oh, não Grey! Será que você cometeu “sincericídio”?
Preciso descansar, dormir. Amanhã o dia será intenso, longo. Não gosto de “serás”. Sou dono do meu mundo, dos meus sentimentos.—Ah, Senhorita Steele, ninguém faz isto com Christian Grey. Nós vamos resolver esta situação. Amanhã.
Fico olhando para o teto à espera do sono que demora em chegar. Mas quando chega, vem embalado na certeza de que a felicidade é preparada no silêncio das esperas mais angustiantes.

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