5 de mai. de 2013

Capítulo 4- Livros e bebedeira







É segunda feira. Já fiz uma longa série de exercícios matinais para exorcizar os demônios que me atormentaram a noite toda, mas não tenho tempo para lamentações. — Isso não é coisa para um CEO competente e muito menos para Christian Grey!
Chego ao trabalho revigorado depois de um bom banho e um ótimo café da manhã. Andrea me acompanha, passa a agenda do dia e os informes necessários. Peço a ela que encomenda um arranjo de flores e envie para Elena no salão. Devo desculpas para minha melhor amiga. Escrevo num cartão:

“ Um excelente dia depois de uma noite nem tão boa assim.
Pessoalmente, depois, analisaremos nossas atitudes e falas estranhas, CG.”

Mergulho no trabalho, tempo e dinheiro caminham paralelamente para pessoas de sucesso e nenhum dos dois pode ser desperdiçado. No almoço encontro alguns executivos de uma empresa que fornecerá tecnologia para aprimoramento de segurança virtual. Estou sempre em busca de novidades nesta área, pois gosto de controlar tudo o que me pertence e garantir a segurança dos meus bens. A tarde passa voando e quando vejo já estou em meu apartamento, tomando um vinho para relaxar. Elena me enviou uma mensagem de texto escrito apenas: —Concordo! Ela está chateada e hoje não quero mais tratar deste assunto.
Só há um assunto que me assombra agora: Anastasia Steele. O dia dela hoje foi como sempre, Clayton, escola, casa. Monitorá-la é uma forma de estar perto. Interessante como o cheiro dela ficou impregnado em mim. Já faz parte de minha memória, bem digamos que, minha memória sexual- quero fazer sexo sentindo o cheiro celestial dela.
Várias vezes no dia fiquei arquitetando uma forma para reparar toda a merda que eu fiz no último encontro. Fico imaginando como ela se sente depois daquilo, provavelmente achando que eu a rejeitei quando na verdade só quero protegê-la de um louco, complicado, amargurado, sombrio, fodido em cinquenta tons: eu.
Fico lembrando do pouco que conversamos até aqui e de sua paixão por livros. Terei que mudar minha forma de presentear, ou melhor, terei que fazer alguns ajustes e implantar o modo “flores e corações”. — Grey, você pensando desta forma, é intrigante!
Já sei! Sim, é isto, bingo! —De volta ao show, Grey! A forma de encantá-la e garantir meu acesso ao seu mundo tem nome: Thomas Hardy.
Pela manhã, assim que Andrea me passa a agenda do dia, vou logo dizendo:
– Andrea, providencie a compra urgente dos livros Tess of the d’Urbervilles, de Thomas Hardy, a edição mais antiga que encontrar. Quando comprar passo as demais instruções.
Resolvo todas as pendências, assino documentos, reviso o caso dos navios do Sudão. Logo à tardinha, Andrea me liga e diz:
—Sr Grey, encontrei o original, primeira edição de Thomas Hardy...
—Ok, Andrea, comprou? Preciso deles aqui até sexta.
—Sr Grey, eu gostaria de informar o preço antes de fechar a compra, porque...
Interrompo antes que ela termine e brado, com raiva:
—Andrea, eu mandei você comprar os livros e não pesquisar o preço. Que parte exatamente você não entendeu?
—Sr Grey, bem me desculpe, é que pensei que fosse um valor muito acima do...
—Andrea, compre! Os detalhes são com o departamento de finanças e não me interrompa com bobagens, fui claro?
—Sr Grey, to, ahã, totalmente claro, desculpe-me.
Era só o que me faltava. O que são alguns mil dólares para conquistar um tesouro inteiro? Um tesouro que quero explorar desesperadamente e que tem dois olhos que mais parecem safiras azuis? —Grey, vamos lapidar esta pedra preciosa!
A semana voa e eu vou monitorando Anastasia Steele de longe. A rotina dela é a mesma e para mim esta talvez tenha sido a semana mais entediante e insuportável da minha vida. Não consigo parar de pensar nela.

Os livros finalmente chegaram. Confiro a edição: ‘London: Jack R. Osgood, McIlvaine and Co., 1891.’ Enquanto isso, uma Andrea chateada fica a espera de minha reação. Ela percebe que eu gostei.
—Muito bem Andrea, era isso que eu queria. Vamos embrulhar adequadamente e depois despachar este presente. —Percebo que ela engole em seco e suas pupilas se dilatam. Acho engraçado ela ainda se surpreender com meus arroubos.
Andrea providencia uma linda embalagem dourada e envolve os livros num tecido antigo, com aroma de hortelã. Ficou muito interessante, provavelmente ao gosto da Senhorita Steele. Escolho minuciosamente o trecho que vai mandar o meu recado para ela:

Por que você não me avisou que havia perigo? Porque você não me avisou? As damas sabem contra o que devem se proteger, porque há romances que contam sobre esses truques.”

É uma citação de Tess of the D´Urbervilles. Escrevo com caneta preta em cartão branco, procurando caprichar na letra. Sim, Tess foi uma personagem que sofreu muito por ser uma bela moça de família humilde, vítima das circunstâncias, do próprio encanto e da moral e bons costumes da sociedade da época. Ela é seduzida e acaba se envolvendo por alguém que só queria usá-la para depois abandoná-la, acabando com sua honra. Ela diz isso para sua mãe após ser seduzida por Alex D´Urberville, após quebrar as regras e sofrer. Sim, é uma história triste. Faz-me pensar no que eu quero realmente com esta menina, pois ela é tão jovem, tão inocente... Penso e não sei exatamente o que responder a mim mesmo. A citação é um alerta para ela, ou para mim, talvez... —Vamos Grey, entre em modo sedução e divirta-se!
Mando entregar o embrulho diretamente no apartamento dela e fico esperando uma resposta. Acho que vai ligar para agradecer e aí, bem aí, deixa comigo. Não vou me permitir perdê-la sem antes tentar convencê-la.
Mas ela não liga e o silêncio inoportuno me apavora. De repente, toca o telefone e sei que não é ela, para minha irritação é meu irmão Elliot. — Lá vem alguma besteira.
— E aí maninho? Muitos compromissos para este sábado? Que tal combinarmos um programa entre irmãos queridos?
—Olá Elliot, não tenho nada programado, mas para você estar me convidando para sair... Vamos abra o jogo, o que está acontecendo?
—Christian, que tal curtir a noite comigo em Portland?
—Ah, que estranho este convite Elliot, diz logo o que você quer, vá direto ao ponto. Até parece que você é acanhado...
—Ok, eu preciso acabar com um relacionamento bobo, que já me cansou. Então preciso ir para Portland botar uns pingos nos is antes que meu nome vá parar na imprensa... Bom, você sabe que aí papai e mamãe vão enlouquecer.
—Sei, mais um dos seus relacionamentos malucos e perigosos. —Ah, quem sou eu para dizer isto para Elliot, conselhos amorosos, mas até que ir para Portland é o passaporte que eu precisava. —Combinado Elliot, no seu carro ou no meu?
Já estamos na suíte do hotel. É bem tarde. Elliot resolveu mais uma de suas maluquices, mas sinceramente nem quis entrar em detalhes. Só penso em Ana Steele e estou me preparando par encontrá-la amanhã. Terei que falar com ela custe o que custar. De repente ouço o som de Bom Jovi que vem do meu blackberry e mal posso controlar as batidas do meu coração. — Sim é ela!
Atendo no segundo toque.
— Anastasia? —Mal posso conter ou disfarçar minha surpresa. Ela dispara numa voz muito estranha.
— Por que você me mandou aqueles livros?
—Anastasia, você está bem? Você me parece diferente, bem um pouco estranha...
— Não sou estranha, você é que é, Sr. Grey. — Ela está... bêbada?
— Anastasia, você bebeu?
— Não é da sua conta.
— É sim mais do que você imagina. Onde você está?
— No açougue... brincadeira Sr Grey, estou num bar.
— Que bar?
— Ora, Sr Grey, num bar em Portland.
— Sei, e vai voltar para casa como?
—Sei lá, mal cheguei, não estou pensando em voltar agora. — Ela está bêbada, muito bêbada, não sabia que ela era dada a bebedeiras. Terei que dar um jeito nisso também.
— Me diga, Senhorita Steele, em que bar você está?
—Só se você disser, Christian, por que me mandou aqueles livros tão raros e tão caros.
— Anastasia, onde você está? Diga-me agora! — Meu tom é ditatorial, ela está me preocupando de fato, temo por sua segurança, mas ela dá uma boa gargalhada.
— Nossa, que dominante. — Falo exasperado:
— Ana, me ajude! Onde, porra, você está? Diga logo!
— Eu estou em Portland...Bem longe de Seattle.
— Onde em Portland?
— Boa noite, Christian.
— Ana! —Merda! Ela desligou. Rapidamente utilizo o rastreador de celulares e a localizo. —Santa tecnologia, wow! Elliot não consegue entender o que está acontecendo e fica me olhando ir de um lado para o outro localizando uma certa Senhorita Steele. —Ah, isso vai custar um bom castigo para ela.
Vou saindo do apartamento e digo par Elliot:
—Vou salvar uma mocinha em perigo, quer ir? Ele se levanta e responde:
—Claro, irmãos Super-Grey, ativar! Sempre em ação a serviço das mocinhas em perigo.
Reviro os olhos para ele e nos dirigimos para o bar. Enquanto isso ligo de volta para ela e assim que atende, disparo:
— Eu estou indo te buscar. Desligo antes que ela responda.
Chego ao tal bar alguns minutos depois e imediatamente ligo meu radar localizador de Steele. Dou uma volta, vejo pessoas dançando, bebendo, se divertindo. Muitos estão comemorando o término das aulas. Ela não está dentro do bar. Saio e no estacionamento avisto uma cena muito grotesca. Lá está ela de camiseta, jeans, tênis, linda como sempre. Mas o que vejo não me agrada. O filho da puta do José está com ela.
Vejo que ele está com os braços ao redor dela. Em seguida coloca uma de suas mãos nas costas, a prendendo contra ele enquanto já acaricia seu rosto. —Puta que pariu! Este merda vai beijá-la e eu vou matá-lo.
— Não, pare, José. Eu não quero! Eu a ouço falar enquanto o empurra. Ela está cambaleante e o desgraçado está se aproveitando da situação. —Ah, eu sabia, ele quer fodê-la, mas não vou deixar.
Ele segura firme o cabelo dela enquanto eu me aproximo sem que eles percebam. Ainda o ouço dizer:
— Por favor Ana, é só um carinho vamos, colabore! — E começa a beijar o pescoço, o rosto os lábios dela.
— José, não! Você é meu amigo, não vamos misturar as coisas e eu acho que vou vomitar. Chego rapidamente perto e vocifero:
— Você é surdo? Eu ouvi a dama dizer não.
Ele a solta imediatamente. Olho para ele com tanto ódio que percebo que sente a tensão e o perigo que está correndo. Ana está atônita, olhando para mim, parece não acreditar que estou ali e, de repente, vomita no chão.
— Ugh! Dios mio Ana! — O babaca diz isso, pula para traz e demonstra estar totalmente enojado. Sorte dele, eu ter que acudi-la, pois evitou que lhe desse uns bons socos na cara. Vou resolver isso depois, assunto de homem para homem.
Pego seus lindos cabelos e os levanto para evitar que fiquem sujos de vômito. Também a levo ao canteiro de flores em volta do estacionamento. Está escuro, enquanto a seguro sinto um forte cheiro azedo de tequila misturada com cerveja. Desajeitadamente ela vomita novamente, várias vezes, sem parar... —Que merda, Grey! Olha o que esta mulher está fazendo com você!
Ela está exausta, mal se sustenta e eu lhe entrego meu lenço. Vejo José parado na porta do bar, nos espreitando. Ela geme levando as mãos à cabeça, é claro que a ressaca vai ser horrorosa e me encara com seus maravilhosos olhos azuis bêbados. Depois também encara José, parece estar com muita raiva dele e isso é ótimo. — Ponto para você, Grey! Demonstra estar bem envergonhada, mais tímida do que de costume. Fica retorcendo meu lenço entre os dedos e fala comigo pela primeira vez.
— Desculpe!
— Desculpar o que exatamente, Anastasia?
—Pelo telefonema, por este espetáculo gratuito que você acabou de assistir... —E lá esta ela novamente, corando mordendo os lábios, do jeito que me enlouquece.
—Todos nós já passamos por isso, talvez não de forma tão dramática como você. — Respondo irritado — Isto é sobre conhecer seus limites, Anastasia. Bem, eu sou a favor de romper os limites, mas não de forma inconsequente. Você tem por hábito este tipo de comportamento?
— Claro que não! — Ela responde muito segura, revirando os olhos — Eu nunca fiquei bêbada antes e sei que nunca mais vou ficar. —Ufa, esta é uma informação excelente, vejo que não me enganei sobre ela.
De repente ela cambaleia, parece estar muito fraca. Eu a seguro em meus braços como se fosse uma criança e decido.
— Vamos lá, vou te levar para casa.
— Eu preciso avisar Kate. — Ela se debate em meus braços.
— Meu irmão Elliot já está falando com a senhorita Kavanagh.
— Quem? Bem, não estou entendendo.
— Ele estava comigo quando você telefonou.
— Em Seattle?
— Não, eu estou aqui, no Heathman.
— Por isso me achou tão rapidamente?
— Eu rastreei seu telefone Anastasia.
— Você, você, o quê? Quem você pensa que é para fazer isto comigo? —Sou o cara que está doidinho para te beijar inteirinha, Senhorita Steele. Ela está enfurecida, seus olhos ficam dilatados, o rosto enrubescido. A luz do luar tem um efeito poderoso sobre sua pela, seus cabelos, deixando-a ainda mais bonita, mais sexy, mais sedutora. É uma estrela que brilha para mim.
Ela vai se aproximando, meio sem noção e levanta a mão como se fosse me estapear, mas se desiquilibra e eu a seguro novamente em meus braços.
— Porra! Ela desmaiou!
Olho desesperado para ela, desmaiada em meus braços, tão doce, tão linda. Nós dois ali sob o luar e eu tomo a decisão que pede meu coração- a levo comigo para o hotel.
—Vamos, Baby... vou cuidar de você!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada por deixar um comentário das suas impressões!