5 de mai. de 2013

Capítulo 6- Charlie Tango



Abro a porta do passageiro do Audi SUV para ela entrar. Ainda sinto as fagulhas que o beijo espalhou pelo meu corpo e tenho certeza que no dela também, mas mantenho a linha e não toco no assunto. Estou duelando com sentimentos confusos. Apesar de ter me deliciado em seus lábios, ainda sinto uma centelha de arrependimento, pois não tenho certeza se devo apresentar-lhe meu mundo cinza. — Que confusão, Grey!
Ao sair do estacionamento ligo meu iPod, preciso baixar a adrenalina a um nível suportável. Anastasia interrompe meus pensamentos:
— Que música é esta?
— É o Dueto das Flores de Delibes, da ópera Lakmé. Você gostou?
— Muito, é maravilhosa.
— É, sim, gosto muito dela.
Fico feliz que tenha gostado, pois não é uma música comum para jovens da idade dela, poucos costumam apreciar. Ela é mesmo uma garota incomum, muito sensível. Constatar isso só faz com que meu desejo aumente. A música acaba e ela me pede:
— Pode repeti-la?
— Com prazer. São vozes celestiais, não são?
— Você gosta de música clássica? Ela me pergunta.
— Meu gosto é eclético, Anastasia. De Thomas Tallis a Kings of Leon. Depende de meu estado de ânimo. E o seu?
— O meu também. Embora não conheça Thomas Tallis.
Volto o olhar em sua direção. Ela está realmente interessada neste assunto musical. Ou talvez esteja aproveitando o momento para focar em outro assunto e desviar a atenção do nosso delicioso beijo.
— Algum dia te mostrarei algo dele. É um compositor britânico do século XVI. Música eclesiástica da época dos Tudor. Parece muito esotérico, eu sei, mas é mágico, Anastasia.
Pressiono o botão novamente para mostrar Kings of Leon e minha música preferida: "Sex on Fire." Mas somos interrompidos pela chamada do meu BlackBerry.
— Grey.
— Sr.Grey, aqui é Welch. Tenho a informação que pediu.
— Ótimo! Mande-me por e-mail. Algo mais Welch?
— No momento não, senhor.
Desligo o telefone, pois não quero enfadá-la com assuntos de trabalho. Mas ele toca novamente.
— Grey.
— Welch mandou-lhe por e-mail uma informação confidencial, Sr. Grey.
— Bom. Isso é tudo, Andrea?
— Sim é tudo. Tenha um bom dia, senhor.
Desligo o BlackBerry novamente pressionando o botão do volante. A música recomeça e, de novo, volta a tocar. — Mas que porra irritante é esta? Justo hoje este telefone dispara desta forma?
— Grey. — Atendo irritado.
— Olá, Christian. Relaxou? — Ai caramba, agora Elliot vai falar merda!


— Olá, Elliot... Estou no viva voz e não estou sozinho no carro. — Ufa, em tempo de salvar a pátria. Suspiro aliviado, se é que dá para confiar nas merdas que Elliot possa vir a dizer.
— Quem está contigo no carro?
Balanço a cabeça irritado, tudo o que eu não queria era esta conversa, neste momento, mas preciso manter a linha diante dela.
— Anastasia Steele.
— Ah, olá, Ana! Tudo bem com você?
Ela responde sorrindo:
— Olá, Elliot! Tudo bem sim! — Como assim? Que intimidade repentina é esta?
—Me falaram muito a seu respeito. Estou interessado em conhecê-la, Ana. — Ops, pisca alerta ligado. Onde isso vai parar?
— Não acredite em uma palavra do que Kate te contou, Elliot. — Anastasia diz bastante sorridente para o meu gosto e Elliot também riu.—Hora de interromper a conversa, Grey!
— Estou levando Anastasia para casa. — Respondo para Elliot — Quer uma carona na volta?
— Claro, estou esperando.
— Vejo você daqui a pouco, então. —Desligo o telefone, antes que Elliot estrague tudo com seus comentários inapropriados.
— Por que você insiste em me chamar de Anastasia? — Esta pergunta me pega de surpresa.
— Bem, porque é seu nome, não é?
— Sim, claro, mas eu prefiro Ana.
— Sério?— Já estamos quase chegando a casa dela. Bom momento para interromper esta conversa.
— Anastasia... — Olho para ela pensativo, escolhendo as palavras com cuidado.— Bem, o que aconteceu no elevador... não voltará a acontecer. Bom, a menos que seja premeditado. — Pronto, tenho que ser sincero!
Estaciono em frente sua casa e não me incomodo que perceba que eu já sabia o endereço. Afinal, a entrega de livros já me denunciou. Ela está me olhando de forma enigmática, sem pronunciar uma palavra. Dou a volta para abrir a porta do carro, só não estou mais triste em deixá-la porque sei que logo mais à noite muitas coisas serão resolvidas. Ao descer noto o quanto ela está ruborizada e, novamente, fala algo que me surpreende e acende:
— Gostei do que aconteceu no elevador, Sr Grey. — Eu também, Srta Steele. E me encara com altivez. Gosto quando ela me olha com este olhar desafiador. Não contenho um suspiro e abro caminho para que suba os degraus da entrada rapidamente.
Elliot está sentado à mesa juntamente com uma Srta. Kavanagh bastante descabelada para seus padrões habituais. Ambos têm aquele rosto que exala sexo e luxúria. É, meu irmão se deu bem na noite anterior e isto é óbvio pela aparência dos dois. Minha recém “cunhada” me olha com desconfiança e cumprimenta Anastasia.
— Olá, Ana.
Somente após se levantar para abraçá-la e inspecioná-la de cima abaixo é que me cumprimenta com má vontade.
— Bom dia, Christian!
— Senhorita Kavanagh — Respondo com a mesma entonação.
— Christian, o nome dela é Kate — Elliot resmunga para mim. Respondo então com um leve sorriso:
— Bom dia, Kate. —Sim, vamos colaborar com o show distribuindo simpatia e gentileza. Encaro Elliot, que riu e se levantou para também abraçar Anastasia.
— Olá, Ana. Muito prazer!
— Olá, Elliot. — Cacete, e não é que ela retribui o abraço, com gosto? Ainda completa a cena sorrindo e mordendo o lábio. Ah, isto me irrita e decido acabar com a palhaçada.
— Elliot, preciso ir, você quer a carona ou não? — Digo isso no tom mais suave que consigo encontrar.
— Claro, irmãozinho! Eu não perderia isso por nada. —Em seguida, vira-se para Kate, abraça-a e lhe dá um interminável beijo.
Tanto eu quanto Anastasia ficamos ali assistindo a cena hollywoodiana dos dois e eu fico doido de desejo para fazer o mesmo com ela, mas tenho que conter meus impulsos. Ela está olhando para os pés no auge de sua timidez. Quando levanta a cabeça me surpreende encarando-a e, para minha surpresa, sustenta o olhar como se dissesse:
—Faça o mesmo comigo, se tiver coragem. —Ah, coragem eu tenho de sobra para fazer isso e muito mais, Srta Steele, mas não é o momento. Reviro os olhos para ela, provocando-a.
— Até mais, baby! —Diz Elliot, finalmente terminando o show.
Não posso negar, claro que foi divertido! Para completar o meu show vou até Anastasia encarando-a firmemente. Apanho uma mecha de seu cabelo que escapou do rabo de cavalo e o coloco atrás da orelha. Inclino sua cabeça com meus dedos sustentando meu olhar em seu lindo rosto. Passo o polegar por seu lábio inferior para demonstrar que quero beijá-la e sinto minha ereção se apresentando novamente. Imediatamente retiro a mão e sussurro para ela:
— Até mais, baby. — Vou sugar este seu lábio até deixá-lo inchado. Espero que meu pensamento não tenha sido ecoado ao ponto de alguém ouvi-lo. Percebo que ela também se excita pela forma que reage e isso me deixa maluco. Ela retribui com um sorrisinho.
— Passarei para te buscar às oito. Dou meia volta, abro a porta da frente e saio. Elliot me acompanha até o carro, mas se volta e lança outro beijo para Kate. Nossa, meu irmão está motivado mesmo! Ele entra no carro falando sem parar.
— Christian, que noite! Valeu muito ter me convidado. Cara, trepei a noite inteira, foi demais.
—Ah, poupe-me das suas orgias sexuais Elliot, não quero ouvir estes comentários.
—Mas meu querido irmão, nós somos salvadores de mocinhas indefesas, temos que fazer o serviço completo, tudo para deixá-las felizes... — Elliot, está com um sorriso bobo no rosto, de fato a noite deve ter sido espetacular. De qualquer forma é engraçado vê-lo assim.
—Muito bem, senhor superfoda, aonde vamos já que ainda é cedo para almoçar e eu só irei embora à noite?
—Bem, gostaria de ir ao Jardim Chinês já que estamos em Portland. Sei que já estivemos lá inúmeras vezes quando crianças, mas preciso de um pouco de inspiração.
—Ah, sim... flores e carpas. Porque precisa deste tipo de inspiração, Elliot?
—Não para o que você está pensando, Christian. É que vou fazer o projeto dos Hawn e eles exigiram um jardim espetacular, então...
—Então estamos no local certo, vamos dar uma volta por lá já que temos tempo de sobra.
Quando éramos crianças nossos pais adotivos nos traziam aqui com frequência. Os Jardins Chineses de Portland são muito famosos e possuem uma beleza singular. Os cuidados e a singeleza do local são inspiradores e tranquilizadores. Será bom sair um pouco da rotina até a hora do meu encontro chegar.
Estaciono na entrada paralela, já que é mais tranquila e não tem tantos turistas entrando por ali. Elliot me acompanha imediatamente. Assim que começamos a caminhar, ele dispara a falar.
—Ah, você não quis falar na frente da Ana, mas impossível não ter transado com ela, conta logo vai.
—Elliot, sinceramente, o que te faz pensar que eu contaria a respeito das minhas transas?
—Ah, tinha me esquecido, lá vem o Sr. Chato Grey. O que é meu irmão? Às vezes tenho a impressão que você tem uns duzentos anos. Somos jovens, somos irmãos, porque não falar de sexo e de garotas? Ou talvez você prefira falar de garotos. —Ele me olha com olhar sarcástico e eu respondo emburrado.
—Se vai começar a investigação sobre a minha sexualidade, bem... vamos ver quem é o gay aqui. —Ele ergue as mãos como se pedisse uma trégua.
—Ok, já expliquei que ser total flex não é o mesmo que ser gay. Eu sou do clube daqueles que vieram a este mundo em busca de diversão, sem preconceitos. Sexo, drink’s e badalação são meus lemas. Mas não é seu caso, sei lá eu o porquê.
—Bem, vamos falar seriamente então: não Elliot, eu não sou gay, não sou total flex, eu curto mulheres e não transei com Anastasia. Ela estava bêbada, desfalecida, apenas cuidei do bem estar dela. Entendeu?
—Puta azar, Christian! Eu, pelo contrário, me surpreendi com a Kate. Ela é muito gostosa e topa muitas delícias, se é que você me entende!
— Pare Elliot, não quero ouvir suas intimidades com esta moça. —Saio andando a sua frente e paro diante do lago das carpas. É um ambiente lindo, calmo tranquilizador. Sento-me em um banco e fico ali contemplando um pouco a natureza do local. Ele me faz companhia junto ao banco. Fica em silêncio por um instante, olhando para o lago e segurando uma folha de arbusto.
—Desculpe, Christian. Eu só queria ter uma conversa de homens com você, mas me esqueci deste seu lado pudico.
—Não é isso Elliot, não sou pudico. Só não quero saber das suas performances sexuais, porque também não desejo falar das minhas.
—Mas é um assunto que você quase não toca. Já pensei que você era gay, ou virgem, sei lá. Você nunca conversa sobre isso. —Ah, se eu conseguisse falar Lelliot...Percebo que ele está sendo sincero e fico lisonjeado com sua tentativa de aproximação. Ele é carinhoso, mas eu não consigo ser assim. Meu lado sombrio sempre fala mais alto.
— Nem uma coisa, nem outra, Lelliot. Apenas sou reservado quanto a minha intimidade.
—Mas este seu lado me preocupa, meu irmão. Você é muito sério. Nestes anos todos construiu uma fortuna espetacular, mas acho que se diverte pouco. Mamãe reclama de nunca ter conhecido uma namorada sua. Esta reserva faz com que existam especulações a seu respeito. — Ficamos um pouco em silêncio. Sei que ele tem razão. Mas como eu apresentaria Elena como namorada? Bem, na verdade, nunca fomos namorados. —Namoradas, Grey? Você nunca teve uma. Você gosta de submissas, nada de flores e corações!
—E tem outra coisa Christian. Eu fiquei preocupado da forma como você agiu ao receber a ligação de Ana. Por mais que você tenha disfarçado, eu vi que você enlouqueceu, se preocupou demais com a segurança dela até irmos ao bar. Você não disfarça tão bem como pensa, brother!
— Eu me preocupei com a segurança dela sim, mas porque é inocente e bastante tímida, foi só isso.
— Mas Kate me explicou que vocês tiveram poucos encontros. O que está acontecendo de fato, você por acaso perdeu o controle e se apaixonou? — Esta conversa me irrita e eu levanto do banco, falando alto.
— Por que todo mundo resolveu achar a que eu estou apaixonado por Anastasia?
—Todo mundo quem, Christian? Taylor anda dando palpites na sua vida ou tem mais alguém que eu não saiba? —Ops, sinal amarelo, Grey. Você falou demais. Elena não pode ser exposta.
—Maneira de dizer Elliot. Taylor não seria louco de dar este tipo de palpite, ele preza por seu emprego. E..., bem não tem mais ninguém. Eu apenas estou sondando território, querendo conhecê-la melhor.
—Uau! Estou surpreso. Já gosto de Ana Steele por ter despertado algo em você e me parece ser algo bom.
— Olha Elliot, hoje vou levá-la para Seattle, vamos conversar e se eu achar interessante decido se vou te contar algo ou não. Mas agora que tal buscar a inspiração para o jardim? Ou viemos aqui para fazer terapia?
—Entendo senhor encerra conversa. Modo terapia, ativar!
—Vamos Elliot, inspire-se porque não vou passar o dia todo aqui. Aliás, posso facilmente te empurrar para dentro do lago como quando éramos crianças... Me levanto e começo a andar para que ele me acompanhe.
— Entendi, Christian. Mas como irmãos e amigos que somos, se precisar conversar estou sempre contigo. E como jovens que também somos te aconselho a se divertir mais, a experimentar mais. Permita-se, Christian Grey! Esta existência é única, diversão não é sinônimo de perdição. —Ele, me abre um sorriso e sai caminhando. Damos uma longa volta pelo jardim admirando as árvores tão bem cuidadas de espécies raras. Há também muitos canteiros de rosas e tulipas. É, de fato, um local encantador em que a natureza e a humanidade encontraram cumplicidade e repeito mútuo.
Algum tempo depois, Elliot para e me convida.
— Ótimo. Era disso que eu estava precisando. Trepadas, flores e inspirações. Acho que você também precisa disso, para acabar com o mau humor. — Reviro os olhos para ele, mas achando graça, de certa forma ele tem razão no que diz.
— Vamos lá, agora um bom almoço no meu pub preferido, com cervejas e lindas mulheres para apreciar. Você vai me acompanhar, não é Christian?
—Nossa, hoje estou bancando o irmão mais companheiro desta temporada...
—Não, Christian! Você está apenas usufruindo da minha companhia maravilhosa! Eu sou demais, sou Elliot Grey!
Depois de almoçar com Elliot, voltei para o hotel e fiquei esperando o momento para, finalmente, encontrar Anastasia e resolver esta situação. O beijo da manhã e as cenas dela deitada na cama, só de camiseta, não saem do meu pensamento.
O lobo que habita em mim está louco para devorá-la e, com sorte, será esta noite, depois que assinar toda a papelada. Não posso sucumbir apenas ao meu desejo carnal por ela, tenho que manter minha segurança e, para isso os documentos são essenciais, afinal minha vida sombria não pode ser exposta aos holofotes. Tudo tem que ser sigiloso e esta foi a melhor forma que encontrei para me precaver. — Calma Grey, serão alguns meses como sempre, até você se cansar e arrumar outra submissa.
Firmo este pensamento, porque há outra parte minha que refuta isso, de alguma forma que desconheço. Andei pensando a respeito e talvez a viagem de Flynn e a falta da terapia estejam me deixando perdido e confuso.
Tomo um banho mais demorando que o habitual. Esbanjo meu sabonete preferido na esponja macia com a essência que mais gosto: Animale. Enquanto isso, repasso o meu plano: pegá-la na Clayton’s, levá-la no Charlie Tango, impressioná-la com meu apartamento, falar abertamente das minhas intenções, entregar a papelada, vê-la assinar, servir um bom vinho, levá-la para o quarto de jogos e aí, bem e aí, foder com gosto e com força. Fazer tudo do jeito que eu já imaginei diversas vezes, principalmente depois dela encostar aquela bunda deliciosa no meu pau enquanto dormia. Paro os pensamentos antes que a ereção se apresente, preciso desta parte do meu corpo somente para a noite.
Muito bem: trocado, perfumado, dentes escovados, cabelos penteados, tudo sob controle. Olho no relógio e é hora de buscá-la. Meu coração acelera e sinto uma insegurança estranha aliada a uma alegria adolescente. Até parece que é meu primeiro encontro. Lembro-me das palavras de Elliot, sobre diversão não ser perdição. —Pronto, Grey. Acione o modo diversão e aproveite!
Estou no banco traseiro estacionado em frente a Clayton’s e a vejo ruborizar quando avista o carro a sua espera. Ela é pontual, característica que aprecio muito. Está vestida com jeans escuro, camisa verde e jaqueta preta. —Hum, muito gostosa! Me apoio na parte de trás do carro e abro a porta para ela, feliz por revê-la, linda como sempre.
— Boa tarde, senhorita Steele. — Digo cordialmente.
— Sr. Grey. —Ah, música para os meus ouvidos, Srta Boca Gostosa. Ela inclina a cabeça educadamente e entra no assento traseiro do carro cumprimentando Taylor ao volante.
— Olá, Taylor!
— Boa tarde, Srta. Steele. — Ele responde em seu tom profissional costumeiro.
Entro pela outra porta e brandamente lhe aperto a mão. Sinto novamente aquela deliciosa eletricidade entre nós. Preciso deixá-la tranqüila, não posso afugentá-la, já que tenho planos deliciosos para nós.
— Como foi o trabalho, tudo bem? — Pergunto-lhe.
— Ah, o dia hoje me pareceu interminável. — a voz dela soa rouca e por um determinado momento penso que está cheia de desejo. —Ah, Grey, seu desejo por ela já é capaz de provocar desejo pelo desejo, que loucura...
— Sim, o meu dia também, pareceu muito longo. —Respondo.
—O que você fez? — Ela me pergunta.
— Andei por aí com Elliot. —Mal me dei conta que meu desejo de tocá-la fez com que eu acariciasse seus dedos com meu polegar. Adoro tocá-la, pois vejo que isto a afeta e que desperta o desejo nela também.
O caminho é curto e rapidamente chegamos ao heliporto. Taylor estacionou, saiu e abriu a porta para ela enquanto eu também descia. Assim que chego ao seu lado, pego sua mão e vou logo perguntando com satisfação.
— Preparada?
Ela faz um gesto de aprovação com a cabeça, mas nada responde, pois parece estar apreensiva, ou talvez nervosa.
Entrego as chaves para Taylor e a levo para o elevador. —Puta merda, elevador!Talvez fosse melhor subir pelas escadas para controlar o monstro do desejo que urra desesperado para atacá-la. Percebo que ela está disfarçando tanto quanto eu e não contenho um ligeiro sorriso nos lábios. —Claro que ela está pensando nisso também, Grey! Bom indício pra seus planos. Para provocá-la digo:
— São apenas três andares.
Ela não responde, mas fecha os olhos, percebo que quer se proteger. Assim que as portas se fecham lá estamos: Eu, Ela e o Sr. Tesão que habita entre nós, protegidos pelos deuses dos elevadores. Aperto sua mão com força, e rapidamente as portas se abrem no terraço do edifício.
Logo avisto meu brinquedinho preferido: Charlie Tango. É um helicóptero branco com as palavras GREY ENTERPRISES HOLDINGS, Inc. em cor azul e o logotipo da empresa de outro lado. Foi uma das minhas melhores aquisições, pois além de ser um excelente meio de transporte para minha posição de CEO é também um hobby, pois posso pilotá-lo e isto me enche de prazer.
Vou para o escritório de Joe para apanhar o plano de vôo. Ele está sentado atrás da mesa e me atende prontamente.
— Aqui está seu plano de vôo, Sr. Grey. Revisamos tudo. O helicóptero está preparado, lhe esperando, senhor. Pode decolar quando quiser.
— Obrigado, Joe. — Respondo-lhe sorrindo já sentindo aquela sensação maravilhosa de desafio. Toda vez que piloto é assim, como se fosse a primeira vez. Dominar uma máquina dessas, sentir as alturas, o ar, não tem preço. Sou o autêntico “The Master of Universe” quando piloto.
Pego o plano de vôo e me viro para ela:
— Vamos?
Eu a levo para Charlie Tango. Percebo que está boquiaberta olhando para os sete assentos disponíveis e observando os detalhes. Sei que meu brinquedinho é mesmo encantador. Abro a porta e lhe indico um assento na frente e já a advirto:
— Sente-se. E não toque em nada.
Subo por trás dela e fecho a porta. Ela se acomoda no assento que indiquei e eu me inclino para prender o cinto de segurança nela. Observo se está tudo bem encaixado e aperto bem as tiras superiores. Checo tudo com cuidado, pois não posso provocar riscos. Nada pode acontecer com ela a não ser deixá-la sempre bem. Me aproximo tanto que sinto o cheiro doce e delicado dos seus cabelos e novamente aquele torpor começa a me inundar. O fato dela não oferecer resistência me anima e faz ter muitos pensamentos obscenos. Percebo que está tão confusa com nossa proximidade que parece parar de respirar. Só de pensar nisso me faz sorrir e dizer.
— Está segura. Não pode escapar. — Sim baby, você não vai escapar e eu vou te dar muito prazer. — Respire, Anastasia. — Acrescento em tom suave e tranquilizador.
Acaricio seu rosto, correndo os dedos até seu queixo, segurando-o entre o polegar e o indicador. Em seguida tasco-lhe um beijo rápido e casto no rosto. Percebo que ela sente o impacto deste meu movimento, não esperava por isso. Olho para ela amarrada por aquele cinto e algo vai crescendo em meio as minhas pernas. —Ah, Srta Provoca Ereção! Você, este cinto e eu...
— Eu gosto deste cinto. — Sussurro para ela.
Ato-me ao meu assento volto minha atenção para o painel de controle. As luzes de comando já estão acesas e eu me preparo para começar o voo.
— Coloque os fones de ouvido, Anastasia. —Preciso protegê-la do barulho ensurdecedor do motor.
Coloco meus fones e começo a dança maravilhosa dos movimentos precisos movendo as alavancas. Isso sim é adrenalina!
— Estou fazendo todas as comprovações prévias do voo. —Digo para ela que me ouve através dos fones.
— Você tem segurança quanto ao que está fazendo? — Ela me pergunta visivelmente preocupada.
— Fui piloto por quatro anos, Anastasia. Está a salvo comigo. — Digo- lhe sorrindo de orelha a orelha. — Bom, ao menos enquanto estivermos voando. — Acrescento com uma piscadela.
— Pronta?
Ela concorda balançando a cabeça rapidamente e com os olhos muito arregalados. Eu passo a falar com a torre de controle:
— De acordo, torre de controle. Aeroporto de Portland, aqui é Charlie Tango Golfe – Golf Echo Hotel, preparado para decolar. Espero confirmação, câmbio.
— Charlie Tango, adiante. Aqui é aeroporto de Portland, avance por um-quatro-mil, direção zero-um-zero, câmbio.
— Entendido, torre, aqui Charlie Tango. Câmbio e desligo. Em marcha. — Sorrio pra ela e Charlie Tango brandamente começa a flutuar e adentrar o espaço aéreo.
Portland não está mais no nosso campo de visão. Agora somente as pequenas luzes do painel nos iluminam, já que a lua está reclusa nesta noite. Pergunto para ela através dos fones.
— Inquietante, não é?
— Como você sabe se está na direção correta?
— Aqui. — Respondo mostrando a bússola eletrônica.
— É um Eurocopter EC135. Um dos mais seguros. Está equipado para voar a noite. — Olho para seus lindos olhos amedrontados e sorrio — Em meu edifício há um heliporto. É para lá que vamos.
Concentro-me nos diversos mostradores que estão a minha frente. Mas percebo que ela está me fitando, como se estivesse explorando cada milímetro do meu rosto. Lembro-me que há dois dias não faço a barba, espero que isto não a incomode. Começo a falar para quebrar o clima.
— Quando voa de noite, não vê nada. Tem que confiar nos aparelhos.
— Quanto durará o voo? — Estranho, ela parece estar sem fôlego, será que o voo a assusta tanto assim? Ou serei eu?
— Menos de uma hora... Temos o vento a favor.
Sim, menos de uma hora para Seattle, menos de uma hora para resolvermos esta situação. Percebo que ela está pensativa e sinto sua inquietação. É claro que está apreensiva.
— Está tudo bem, Anastasia?
— Sim, tudo... tudo bem. —E vai ficar ainda melhor, Srta Steele.
No tempo calculado, começo os procedimentos para o pouso que se aproxima.
— Aeroporto de Portland, aqui Charlie Tango, em um-quatro-mil, câmbio.
A torre passa os procedimentos necessários.
— Entendido, Seattle, preparado, câmbio e desligo.
Aponto as pequenas luzes que já podem ser avistadas.
— Olhe, Anastasia. Aquilo ali é Seattle. Percebo que ela está boquiaberta.
—Sempre impressiona assim as mulheres? "Venha dar uma volta em meu helicóptero"? — Lá vem Anastasia surpreendente novamente.
— Você é a primeira mulher que trago no helicóptero, Anastasia. Isto é uma novidade para mim também. — Respondo em tom tranquilo e sério.
— Está impressionada?
— Sinto-me sobressaltada, Christian.
Acho graça e não contenho um sorriso.
— Sobressaltada?
Ela faz um gesto afirmativo com a cabeça.
— Faz tudo... tão bem.
— Obrigado, Srta. Steele — Isso porque você ainda não conhece o que eu faço de melhor, mas vai conhecer hoje.
Continuamos a atravessar a noite escura em silêncio. Cada um com suas apreensões e reflexões. O ponto de luz de Seattle fica cada vez maior. O silêncio é interrompido pelo rádio.
— Torre de Seattle ao Charlie Tango. Plano de vôo à Escala em ordem. Adiante, por favor. Preparado. Câmbio.
— Aqui Charlie Tango, entendido, Seattle. Preparado, câmbio e desligo.
— Está claro que você se diverte. — Ela murmura para mim.
— O que? — Do que exatamente ela está falando? Encaro-a para decifrar.
— Voar. — Ela responde.
— Exige controle e concentração... como não iria me encantar? Embora o que mais gosto é planejar.
— Planejar?
— Sim. Voo sem motor, como planadores e helicópteros. Piloto as duas coisas.
— Ah! Entendo...
A voz do controle de tráfego aéreo nos interrompe:
— Charlie Tango, adiante, por favor, câmbio.
Chegamos ao ponto em que se avista Seattle. Agora estamos nos subúrbios. Percebo que ela está encantada.
— É bonito, não é verdade? — Pergunto-lhe.
Ela concorda sorridente e demonstra entusiasmo.
— Chegaremos em alguns minutos. — Aviso para ela.
Recomeço a falar com o controle de tráfego aéreo e concentro minha atenção nos procedimentos. Contorno os prédios e logo surge a nossa frente a palavra “Escala” pintada em branco no topo do edifício. Já avisto o heliporto, finalmente minha casa. A ansiedade começa a crescer, não quero assustá-la, nem decepcioná-la. Muito menos perdê-la... Percebo que ela se agarra à borda do assento com força. É claro que está apreensiva diante de tanta novidade.
Reduzo a velocidade do helicóptero e ele fica suspenso no ar. Aterrisso na pista do terraço do edifício. Percebo um nó que se forma no meu estômago, a ansiedade e apreensão pelo que está por vir começam a me deixar nervoso. Desligo o motor e espero o ruído diminuir até silenciar. Tempo suficiente pra eu tomar fôlego e dar continuidade ao planejado. Retiro os fones e me inclino para tirar os dela.
— Chegamos. — Digo em voz baixa.
Olho intensamente em seus olhos, o brilho deles estão intensos também, entrecortados pela escuridão e pelas luzes brancas da aterrissagem. Fico sorvendo seu cheiro agradável de cabelos limpos. Estou tão tenso que fecho os olhos e cerro as mandíbulas. Sinto-me um autêntico cavalheiro das trevas, perdido entre o desejo de tê-la para mim e a incerteza se ela compreenderá e aceitará meu mundo sombrio.
Abro meu cinto de segurança e me inclino para abrir o dela. Seu rosto está a centímetros do meu e eu digo para ela em meio a minha angústia.
— Não tem que fazer nada que não queira fazer. Você sabe, não é?
— Nunca faria nada que não quisesse fazer, Christian.
As palavras dela são exatamente o que esperava ouvir e me acalmam.
Abro a porta do helicóptero e pulo. Abro a porta dela, agarro sua mão para ajudá-la a descer à pista. O vento do terraço do edifício é forte. Passo o braço pela sua cintura e a puxo firmemente contra mim.
— Vamos?

Um comentário:

  1. lembro-me que no primeiro encontro ana não usava calça jeans e sim o vestido roxo de kate

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